terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Madrugada

-----------------------------------------------------------Que farei quando tudo arde?
-----------------------------------------------------------Sá de Miranda



Era festa, julgaram
que os balões eram livres
e subiam, não viram,

não viram

que uma corrente quente
descia e cobria,

devagar

murchavam de madrugada,
fim de Abril , já ardiam

e arderam.

5 comentários:

Joana Espain disse...

Desculpem o atraso a letra que resolveu ser teimosa (e o atraso, uma semana impossível).

A. Roma disse...

Joana, Gostei muito do teu poema.
Acho que os poemas curtos comportam um risco maior, talvez porque concentram em uma ou duas ideias ligadas toda a força do poema. Mas quando é bem conseguidos, como o teu, o belo passa a incorporar uma imagem nítida.
De resto nem posso comentar os versos para não carregá-los, prefiro ler outra vez o poema.
E entendo bem a teimosia das letras que não chegam. Vivo isso mas não lhe dou importancia, eu sei que a poesia é uma senhora de muitos caprichos e às vezes caímos na tentação desajeitada de imitá-la até nos seus amuos. Poderá haver um silêncio trapalhão?

M. disse...

Joana, mais uma vez gostei mesmo muito do teu poema. Entendi-o como uma alusão à fragilidade da liberdade. Ter a liberdade como garantida pode ser pernicioso. O 25 de Abril é uma data tão presente (mesmo para quem não a viveu) que a liberdade às vezes é assumida como uma garantia que ninguém se esforça por assegurar. Mas às vezes é no descuido descansado dos olhos que as garantias ardem.
Conceptualmente acho fabulosa a ideia do balão de papel de uma festa. Em relação à forma, gosto muito da utilização verbal. Dá uma grande fluidez e movimento, para além de permitir usar uma certa ironia entre o acto "não viram" e a consequência "arderam". Muitos parabéns

Ana Luísa Amaral disse...

Cito-vos. Primeiro, o António: "Acho que os poemas curtos comportam um risco maior, talvez porque concentram em uma ou duas ideias ligadas toda a força do poema." Excelente comentário sobre a parte formal. Depois, a Marlene: "Entendi-o como uma alusão à fragilidade da liberdade." Muito bem -- sobre o sentido do poema. O meu: gostei imenso, Joana. Muito bem conseguido. Sugestão: um travessãozinho

"já ardiam

- e arderam"

josé ferreira disse...

Joana neste poema não consigo descolar a presença desencantada da Maria Teresa Horta quando lhe censuraram a liberdade muito depois dessa revolução de cravos.
Gostei do poema e concordo com o travessão da Ana Luísa.
Parabéns e até 2ª.