sábado, 27 de dezembro de 2008

Cicuta Pura

Do "Tríptico emocional" e depois da última sessão
decidi só publicar o que recolheu
a melhor aceitação dos meus colegas (quanto ao pastel
que pintei para a apresentação tenho que estudar
um pouco mais de informática para o conseguir
publicar):

Cicuta Pura

Por vezes visto-me de toga branca, acusado
na Assembleia grega de Sócrates.
Do lado de lá nem Platão nem Críton. Só ninguém
e uma chuva de setas de cicuta lançada de canas secas.
Cuido da vista que não se perca, do lado esquerdo
do peito que o veneno não atinja.
Se a chuva cessa sempre palpita um lado.
No meio dos dedos vejo rostos, esgares e
sendo imensa e funda, apago a dor
esperando um, apenas um dia um
mais dia um ... alguém!

2 comentários:

josé ferreira disse...

Fiz algumas alterações na pontuação do poema que apresentei inicialmente e introduzi as reticências e "alguém" que me pareceu melhor. Numa segunda leitura teria posto no final
"- alguém!".Saudações poéticas para o Melhor Novo Ano - 2009!

M. disse...

Olá José
Que bom reve-lo nos seus poemas depois das festas. Confirmei agora que gostei mesmo muito deste poema. Já se tinha dito na aula, mas o início é de facto uma porta grande para o poema, pois é original e transporta-nos. E depois eu tão fã dos sons das palavras adoro:
"Do lado de lá nem Platão nem Críton. Só ninguém
e uma chuva de setas de cicuta lançada de canas secas.
Cuido da vista que não se perca, do lado esquerdo
do peito que o veneno não atinja." Muitas aliterações de s e c que me fazem imaginar o sibilo de setas e o ruido seco quando caem no chão.
Dentro destes versos saliento ainda o "só ninguém" que para mim me soa muito invulgar e faz arrebitar a orelha e o cérebro. Todos esperariamos um "só alguém". Mas na realidade a ausência - o ninguém - é de facto uma presença que às vezes destaca ainda mais que a própria presença.

Parabéns e obrigado por partilhar o que escreve.
Bom ano para si cheio de produção poética.