quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Um poema de que gosto

Pablo Neruda tinha a sabedoria simples e profunda que atravessava as paisagens azuis
dos Oceanos e o fez correr mundos nas asas de belas poesias.

Para quem, como a maior parte de nós, foi desafiado a entrar pelas regras dos sonetos, no início do Workshop com a nossa "Prezada" Mestra, aqui vos deixo um soneto de amor que acho de rara beleza

XLV

Não estejas longe de mim um dia que seja, porque,
porque, não sei dizê-lo, é longo o dia,
e estarei à tua espera como nas estações
quando em algum sítio os comboios adormeceram.

Não te afastes uma hora porque então
nessa hora se juntam as gotas da insónia
e talvez o fumo que anda à procura de casa
venha matar ainda o meu coração perdido.

Ai que não se quebre a tua silhueta na areia,
ai que na ausência as tuas pálpebras não voem:
não te vás por um minuto, ó bem-amada,

porque nesse minuto terás ido tão longe
que atravessarei a terra inteira perguntando
se voltarás ou me deixarás morrer.

Pablo Neruda "Cem sonetos de amor"

2 comentários:

Rio disse...

bonito, mesmo. deixo uma sugestão: publica a versão original, que (para mim) Pablo Neruda só se atinge na imensidão da sua língua materna.

abraço de saudades

josé ferreira disse...

Sara tens a razão toda do mundo quando reclamas da lingua mãe do poeta, também eu me seduzi muito mais com a versão original, no entanto não a tinha disponível e prometo publicá-la logo que a consiga.
A poesia para ser autêntica tem que ser sentida o mais próximo da realidade ou do sonho que a criou,
ela nasce no nosso berço, no nosso país, na nossa época, na nossa sonoridade latina, portuguesa ou espanhola.

Até breve