quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Labirinto com touro dentro

No meio do labirinto dorme um touro de sonhos violentos
No meio do labirinto dorme uma menina de sonhos violentos
A meio do sonho, a menina bebe o leite
O leite que acalma as meninas e os touros,
O leite de uma fêmea jaguar que descansa no meio dos morangos,
Com as facas aguçadas os talhantes tentam entrar no labirinto
Para matar o touro, porque não acreditam em mitologia
E porque os mitos não alimentam ninguém.
Os homens do talho vão depois pagar os seus impostos,
Teseu também está com a ficha de IRS ainda por preencher
Declara às finanças que tentou matar um touro,
As virgens excitam o touro
O touro vem-se para dentro de uma taça dourada
A bebida que está na taça não é mitológica
Nem simbólica


Com o seu vestido da cor do vinho e com as suas tranças
Chora para dentro do leite
Chora leite para dentro do leite
Chora no seu labirinto…


Nuno Brito 2008

2 comentários:

josé ferreira disse...

No sonho tudo se aceita, na poesia também; outra forma de sonhar de olhos abertos. Gostei de um Teseu com ficha de IRS, e não resisto há tentação de imaginar um talhante com crenças em mitologia.
Poema original, forte, abalando consciências a que já nos habituaste!

Fico à espera do próximo!

liliana disse...

Gostei muito do teu poema, da imagem do labirinto, do mundo do sonho e do mito, do ritmo de quem conta uma história e das pontes dentro da história com outras histórias e com as nossas histórias :)