quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Éden da Memória

Queria falar-te da minha
Cerejeira florida e dos
Brincos de princesa
Que são o orgulho do meu
Jardim terreal:
- Não sei agora onde colher
Cerejas nem onde fica o meu reino!

Queria falar-te do meu
Diospireiro
Que ilumina o outono
(como a minha infância a árvore de natal)
E acende o bico e o desejo aos melros
- Não sei agora onde colher o
Pôr-do-sol da minha vida!

Queria falar-te do
Sonho e da vida
E dos sabores e aromas
Que ainda habitam esse espaço verde
E grato da minha memória
-Não sei agora onde colher o
Cheiro quente do incenso e fresco do alecrim;
Não sei agora onde colher os sabores
(Do limão e do kiwi
Do tamarilho e do maracujá
Do pêssego e da laranja
Da ameixa e do alperce
Da pêra da nêspera da maçã)
- Não sei agora onde fica o éden da minha vida!

Queria falar-te da minha Palmeira magistral
Vigiando maternal as Buganvílias ali entrelaçadas
De cores serenas e aleluias primaveris
E lá mais adiante
A flor e a folha e o cheiro
Da lúcia-lima e do loureiro
- Não sei agora onde colher
O verde sadio do olhar e a coroa
Da vitória e do saber!
[ E estava lá a nossa vida toda e até
Os nossos corpos nus
No coração de Agosto.]
Ah! O meu paraíso perdido! Outra vez!

José Almeida da Silva
In " Amanheceste em mim pelo poente"

4 comentários:

josé ferreira disse...

Um poema que preenche o vazio das memórias, pintando imagens vivas de aromas, frutos, suspiros por paraísos, que todos temos perdidos... e que de vislumbres, em momentos reencontramos!
Gostei!

liliana disse...

Gostei muito do seu poema, das imagens que invoca, dos aromas que transporta no meio das palavras, da saudade subjacente das memórias e dos lugares . parabens

A desalinhada disse...

No meu Éden da Memória, também lá estão os maracujás, as palmeiras, as buganvílias atrevidas, o cheiro a limão e os brincos-de-princesa com que me enfeitava, na infância! Também eu já "Não sei onde fica o Éden da minha vida."
Mataram-no, destruíram-no, roubaram-mo!
Está ainda e apenas, vivo, cristalizado, no meu coração e... na minha memória!
Vamos perdendo tanto...Já perdi tanto...
Lindo, lindo, este poema!!

Maria Celeste

Anabela Couto Brasinha disse...

Olá Maria Celeste! "vamos perdendo tanto" e "já perdi tanto", e o que ganhou?! Eu vou conheçendo um mundo mágico ao ler o que escreve e publica no blog, ! "vá lá" conte-me o que ganhou!
Anabela C. B.