terça-feira, 30 de setembro de 2008

Cassandra

Num sábado de oração na Sinagoga grande, o rabino disse
«O milagre não é uma laranja tornar-se cúbica, o milagre é as laranjas já serem esféricas»
Nada era melhor do que aquela pedra.
Algumas horas. Devia fazer isso com todas as coisas.
Às vezes não é preciso tanto tempo, 12 minutos a olhar para um semáforo avariado e torto e já nada é mais bonito do que um semáforo a cair!


A cidade está cheia de medo.
Nestes dias antes da tua morte, a cidade ficou cheia de medo de nós.
Os muros pareciam precisar de ajuda
Os prédios não conseguiam suportar mais os seus habitantes.



Fez-se um silêncio pleno …
Um silêncio Grande,
Como quando dez mil camiões buzinam ao mesmo tempo.




Tanta calma … Percebemos logo Tudo.
Aprender num dia mais do que no anterior
Como a minha mãe me disse, ou foi a meu filho?
O tumor está a alastrar-se a toda a cabeça! – Gritou alguém ao megafone.
Cassandra!
Está tudo a correr bem!
As laranjas são redondas ainda. Tudo é tão leve …


Queria tanto beber do teu leite.
Tu empurravas-me a cabeça e rias-te.
Acendias um cigarro.
O teu corpo era a minha casa.



Quero abraçar todos os homens e mulheres.
O Abraço supremo que abarca toda a humanidade com os braços grandes de uma mãe.
Os cantores de que tu gostavas estão agora mais vivos.
As canções na rádio sabem a leite estragado.
Calma, foi apenas o fim do mundo.
Tudo o resto continua……….


O carro funerário ia muito devagar
Foi tudo tão alegre … Uma alegria Aguda
Que entrava dentro de nós
Como uma viga de ferro a cair-nos na cabeça
Uma felicidade sufocante que ecoava pelo Universo naquele sábado de sol
Cassandra
Só um som ou uma ideia
Só uma PALAVRA



Nuno Brito, 2007

1 comentário:

Ana Luísa Amaral disse...

gosto imenso do poema!! acho que o final merecia um pouco mais de trabalho