quinta-feira, 11 de junho de 2009

Encontro-te

Encontro-te sempre no sítio certo;
na galeria de arte, no bazar antigo
na fila do teatro, no grupo animado
de um bar novo.

Costuma ser ao sábado
cruzamos o olhar,sabemos o sorriso
onde se apaga o lápis dos versos
e sobresssai a tinta permanente
do desejo ... a noite longa.

De frente vejo o grande aquário
um mundo pequeno: uma praia, duas luas
as estrelas, o mar suspenso
e dois corpos sem toalhas
vestidos de águas breves
(h)ora descendo num balanço
(h)ora subindo em desafio
ao sal mais salgado dos lábios
infindável beijo.


As mãos acenam e os teus olhos levam
o meu sonho dentro deles
esvoaçam as doces ancas, os cabelos
as marés dos teus seios
e os meus receios de que não chegue
o dia das cerejas, das certezas;
essa barca dos perfumes
que me leve com eles.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Dia de Portugal



Uma das sete maravilhas de Portugal no mundo. Por lá andou Camôes e salvou de afogamento as preciosas folhas.

Metáfora malvada

Ao acordar a chuva intensa em telhado de zinco
falso granizo, berlindes metálicos de ruído.
Nos olhos líquidos um céu claro, claro de cio
húmido e branco escorrendo rios no azul cinzento
céu sem chama e o sol assim tão pouco
a luz insuficiente.

As ideias secas e a impressão que devia pousar a caneta:
"Hoje não! Hoje não escrevo!"

A chata tinta obrigando as lentes, os olhos
os dedos obrigando sempre o correr das letras:
metáfora, a nova metáfora, que ninguém conheça:

"Onde estás?Metáfora malvada!"

Ânsia e sede de uma gota mágica, gota metáfora:

"Onde estás?Metáfora malvada!"

Crina esvoaçante de uma estátua de pedra
que fluída expanda as células vivas
levante os cascos dos sentidos
leia o vento dos segredos nas narinas
o prazer frémito de cavalo de corrida!

"Onde estás?
Metáfora, metáfora, metáfora malvada!"

terça-feira, 9 de junho de 2009

Brinco pérola e o filme


Pérolas

São como pérolas
no fundo do meu mar
oceano de brilhos
janelas de vida
poesia de gestos
o teu olhar.

Levantas leves as meninas
as pupilas do desejo;
desce uma nuvem do céu
nos ampara e eleva
acima ao Sol
onde se solta a luz...
nasce o sonho!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Pedro de Santarém

Querida
rapariga
primitiva
que eu sou
fui
e hei-de ser

Minha
querida
rapariga
para ti
os girassóis
são giros
e giram

e é o amor
que move
o Sol
que move
o girassol

E
é o girassol
que move
o Sol

Querida
rapariga
imperativa:
gira, Sol
gira, girassol

E
Deus
é
o girassol"

Retrato de uma cena alguns anos atrás

Ali de tridente
frases de encanto
inverdades de efeito letal.

Porque vejo lianas
piruetas de troncos
gritos surdos de Jane?
Porque só eu ouço
de rosto fixo e alma traçada?
Porquê o ridículo gesto do chapéu
esgar cínico olhar de Bogart?

Saímos juntos na noite fria
ainda de mão dada
estranha liberdade.
Comentários banais
circunstância esquecida
invenção de véspera
contagem final
do dia que termina.

livro

:)

para quê enviar-te uma carta

Para quê enviar-te uma carta se estás aqui ao meu lado, para quê.

Porque não me quero ouvir declamar as falas de um discurso

decorado em antemão, decorado, que já não sinto

sequer, mas tenho que to ler em sílabas completas

sem o choro dos passados partilhados.

E naqueles tons eu vou deixar-me aceso em lenta vida,

em lenta vida naqueles tons monocórdicos aos quais me rendi

sem a tua presença radiante. Para quê enviar-te uma carta.

Talvez me sinta mais homem. Talvez. Aquelas palavras brutas

e animalescas que te chamo nas ideias estão lá, aquelas palavras

únicas que eu não digo porque te ferem, frágil que és, te ferem

até à medula do teu ego. Sentir-me-ia mais homem porque

não te teria de olhar nos olhos. E olhar-te dói.

Dói-me ao respirar-te, ao ouvir-te falar, ao chegar-me a ti

e saber que não te posso encharcar de amor, dói. 


David Campos Correia

Os jardins de Monet em Giverny

O jardim das cores

No jardim das cores
o azul e o laranja,
o amarelo, o violeta,
o lilás e o carmim...
saltam das flores
à paleta do poeta
nas asas do perfume
a pétalas de rosa,
a jasmim!

domingo, 7 de junho de 2009

Direito ao pequeno

O presidente da APCPB, Associação Portuguesa pelo Direito à Beleza das Coisas Pequenas e Banais, declarou ontem que um dos seus membros irá comparecer em tribunal na próxima segunda-feira para testemunhar o encontro secreto entre o mar e a lua num grão de areia. A associação relembra que só um apurado sentido de sonho com detalhes poderia ter detectado tal ocorrência.

A nervura constante

Há uma nervura constante que me aperta o sono
claridade na escuridão de fotogramas negativos;
agora um quadro nítido após um intervalo
depois um apagão e de novo outro que se apresenta
díspar na aparente imprecisão.

Esses sentidos que sempre se explicam
mas nunca nesta hora tardia
onde juntam asas os morcegos planadores
abrindo em espaços a luz das estrelas
significam a libertação dos limbos
nos ritmos acelerados de marimbas
em lagos planos
desejos de alma.

Estão cobertos os ombros nus
de bordados monogramas
só nossos como os genes
e os cabelos despenteados
aguçam o interno mundo
onde vivem homens de guelras no fundo do mar
onde anjos agitam harpas nas nuvens amarelas

Os ritmos as cores mudam no descanso do sonho:
um xilofone de Orff nos oito braços de um polvo
não é vulgar
um violino de cordas de barro não é suposto
tocar
melodias de Paganini
uma boneca de Rosa Ramalho de cara informe
não dança
no entanto
os oito braços podem ser desejos de sete vidas
mais esta que é real
as cordas de barro o medo de não ser flexível
não saber a música quebrar
a boneca de cara informe a fábula do sapo
na versão da princesa
sapatos de vidro sorriso de graça
verdadeiro rosto de mistério

alguém a quem se guarda
as palavras mais belas desta noite
onde como onda a nervura constante
me aperta o sono

sábado, 6 de junho de 2009

Paul Eluard



Pintura de Eluard efectuada por DALI


Paul Eluard - Poeta

Eugène-Émile-Paul Grindelul
* Saint-Denis, França - 1895 d.C
+ Paris, França - 1952 d.C

O poeta Paul Éluard nasceu no ano de 1895 em Saint-Denis, hoje um subúrbio ao norte de Paris.
O poeta francês foi autor de poemas que circularam clandestinamente durante a 2a Guerra Mundial, contra o nazismo.

Participou no movimento dadaísta, foi um dos pilares do surrealismo, abrindo caminho para uma ação artística mais engajada, até filiar-se ao partido comunista francês. Tornou-se mundialmente conhecido como O Poeta da Liberdade.

Aos 16 anos, Paul Eluard contraiu tuberculose, o que o obrigou a interromper seus estudos.

No sanatório de Clavadel, na Suíça teve o primeiro encontro com Manuel Bandeira. Foi o primeiro encontro de Éluard com um grande artista brasileiro.

Na Suíça, no Sanatório de Davos, ele conhece uma jovem russa, Helena Diakonova, que ele chama de Gala. Os dois casaram-se durante a guerra, em 21 de fevereiro de 1917. Sua impetuosidade, seu espírito decidido, sua cultura impressionam o jovem Éluard, que encontra nela seu primeiro impulso de poesia amorosa. Juntos, eles lêem poemas de Gerard de Neval, Baudelaire e Apollinaire. Em 11 de maio de 1918, nasce sua filha Cecile. Viveram juntos até 1929. Gala em seguida se casaria com o pintor espanhol Salvador Dalí.

O “Éluard”, adotado depois, era o sobrenome de sua avó materna.

Embora o trabalho de Paul Éluard tenha conhecido várias fases - foram dezenas de títulos publicados entre 1913 e 1952, ano de sua morte -, Paul Éluard tornou-se conhecido principalmente pela sua poesia surrealista. O poeta formou-se num momento extraordinário da vida cultural francesa.


André Breton e Louis Aragon

Conviveu intensamente com poetas como André Breton e Louis Aragon e artistas plásticos como Picasso, De Chirico, Dalí, Magritte, Miró, Man Ray e Chagall



Liberdade

Nos meus cadernos de aluno
Na minha carteira e nas árvores
Na areia e na neve
Escrevo o teu nome.
(…)

Nos campos do horizonte
Sobre umas asas de pássaro
Sobre o moinho das sombras
Escrevo o teu nome
(…)

Na vidraça das surpresas
Nos lábios que estão atentos
Muito acima do silêncio
Escrevo o teu nome.
(…)

Na ausência sem desejo
Na solidão despojada
Na escadaria da morte
Escrevo o teu nome.
(…)

Sobre a saúde refeita
Sobre o perigo dissipado
Sobre a esperança esquecida
Escrevo o teu nome.
(…)

E pelo poder da palavra
Recomeço a minha vida
Nasci para te conhecer
Nasci para te nomear
Liberdade