A casa em ruínas que vejo
daqui
salta da janela, entra nesta
sala,
mas não tem janelas que a
façam brilhar,
as molduras rotas carregadas
de ar,
as portas cobertas da hera
mais pura,
as telhas brilhantes de
ausência de cor,
e um buraco imenso onde o
coração
devia luzir, se as ruínas não
–
Morre devagar, como o
universo,
galáxias e mares de estrelas
e sóis:
política rara sem reis nem
senhores,
mas tenso equilíbrio de
forças sem luz.
Morrem devagar o tempo e os
livros,
as estantes todas que habitam
a sala:
pobre microcosmo do Bem e do
Mal,
e do que nem isso, que é o
mais vulgar.
Lembra-me, escarlate, só pela
memória,
um livro maior de forças a
sério:
o claro e o escuro de um igual
terror
À casa em ruínas salvam-na
essas asas
que vejo daqui, saltam da
janela
e entram nesta sala. Não são
as do anjo,
mas têm nas penas um sistema
hidráulico
que as faz oscilar e rasar os
ventos.
Olham-me, sombrias, dentro de
um futuro
liso e sem ruínas – só de
um chão mais puro
onde a casa houve, de janelas
rasas
carregadas de ar. Só ele é
comum
ao anjo e a elas, elas cheias
dele,
ele, transportado e oscilando
em paz.
Quando for sem ser? Só um
limpo instante
de equalizador: ruínas e
ventos,
janelas e anjo, heras e
senhores
em mudas frequências, enxutos
os sons?
E um poço vazio onde o
coração
foi visto bater: partícula
igual
ao pó de um cometa que um dia
rompeu,
devorando o ar. E a casa em
ruínas
abrandada em tempo, vogando no
branco
de resplandecentes seis
sílabas. Sós.