quinta-feira, 26 de março de 2009
A persistência da memória
Nos ponteiros moles do tempo
a persistência da memória resiste
e assim de forma independente
em cada um molda desconforma
a cada segundo
uma única alma absorta
de água na boca.
Uma canção de Schubert
Este vídeo têm a particularidade de ter o subtítulo de "homens na cozinha" vale a pena ver até ao fim. A canção também merece a audição apesar de não ter tradução.
Os crocodilos do Nilo
A Fontana de Trevi atreve
o som de água e descreve
o discurso inaudito
que não vislumbra o turista
de colete caqui e sol poente
na pala "Panamá".
Está esgotado, suado no lenço.
Dedos cansados a mente persistente
de desertos lentos areia quente
no balanço das bossas do Egipto
e um outro ruído de águas:
os crocodilos do Nilo.
quarta-feira, 25 de março de 2009
Noites
Às vezes queremos dizer tudo
rodeá-lo de palavras
e surge árido o lugar dos reflexos
o canto dos sentimentos.
Por vezes
há noites de estrelas e veludos
na casa junto ao lago
onde não falo ou escrevo
mais que a Natureza.
rodeá-lo de palavras
e surge árido o lugar dos reflexos
o canto dos sentimentos.
Por vezes
há noites de estrelas e veludos
na casa junto ao lago
onde não falo ou escrevo
mais que a Natureza.
palavras pe(r)didas
"Não sei bem onde foi que me perdi;
Talvez nem tenha me perdido mesmo,
Mas como é estranho pensar que isto aqui
Fosse o meu destino desde o começo."
António Cicero
Talvez nem tenha me perdido mesmo,
Mas como é estranho pensar que isto aqui
Fosse o meu destino desde o começo."
António Cicero
Terrível é o caminho que não encolhe na chuva
Onde foi que te perdeste?
Tantas vezes me perdi
Que vezes é preciso perder-se para não mais ser possível achar-se?
Quantas vezes vale desistir?
Em todos os meses depois de janeiro
Se no primeiro turno tudo ficou no irremediável perdido
Onde foi que te perdeste?
Tantas vezes me perdi
Que vezes é preciso perder-se para não mais ser possível achar-se?
Quantas vezes vale desistir?
Em todos os meses depois de janeiro
Se no primeiro turno tudo ficou no irremediável perdido
No espremer da própria água
O que sobra de tudo?
Parece que chega para ti, guardiã da semente que
Um dia, um outro filho, um jovem ligeiro
Desenterrará na primavera por falir
E o velho feiticeiro
Descansar da estranha vida a
Fugir
Quando a juventude morrer de amor
E tomar de luto o pedido do impossível mar
Restarás tu a iludir a velhice das folhas nocturnas
A substituir as palavras
P e r d i d a s
Tantas vezes me perdi em ti e não contigo
Outras vezes nos perdemos connosco e não em nós
Chorará o tempo por te amar tardiamente
O tempo que não chega a tempo de outros amantes,
E o filho, morrerem de amor
O que sobra de tudo?
Parece que chega para ti, guardiã da semente que
Um dia, um outro filho, um jovem ligeiro
Desenterrará na primavera por falir
E o velho feiticeiro
Descansar da estranha vida a
Fugir
Quando a juventude morrer de amor
E tomar de luto o pedido do impossível mar
Restarás tu a iludir a velhice das folhas nocturnas
A substituir as palavras
P e r d i d a s
Tantas vezes me perdi em ti e não contigo
Outras vezes nos perdemos connosco e não em nós
Chorará o tempo por te amar tardiamente
O tempo que não chega a tempo de outros amantes,
E o filho, morrerem de amor
Desnoções & algibeiras
para ser grilo
há que ter algibeiras
onde também caibam silêncios.
ser sorrateiro
espreitando entre dois fios de relva.
saber fazer uma teia invisível
onde o infinito se armadilhe.
encarar o universo
com demasiada intimidade
- a modos que quintal.
saber:
que as estrelas encarecem
de carinho
e brilham para mais desanonimato;
sonetar com roncos de garganta
desminando rebentamentos de coração.
para ser grilo
há que ter desnoções.
viver que:
há só uma distanciaçãozinha
entre apalmilhar um quintal
e acomodar estrelas num abraço.
Ondjaki - "Há prendisagens com o xão"
há que ter algibeiras
onde também caibam silêncios.
ser sorrateiro
espreitando entre dois fios de relva.
saber fazer uma teia invisível
onde o infinito se armadilhe.
encarar o universo
com demasiada intimidade
- a modos que quintal.
saber:
que as estrelas encarecem
de carinho
e brilham para mais desanonimato;
sonetar com roncos de garganta
desminando rebentamentos de coração.
para ser grilo
há que ter desnoções.
viver que:
há só uma distanciaçãozinha
entre apalmilhar um quintal
e acomodar estrelas num abraço.
Ondjaki - "Há prendisagens com o xão"
terça-feira, 24 de março de 2009
A origem do blogue
Encontrei na primeira pessoa a origem do blogue e gostei de ouvir de novo a poesia dita nas carteiras de uma sala de aula.
segunda-feira, 23 de março de 2009
Um soneto
E TUDO ERA POSSÍVEL
Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido
Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela tivesse acontecido
E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer
Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer
Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido
Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela tivesse acontecido
E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer
Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer
A espera no Aeroporto
Interrogo
na nave pululante de outras asas abertas
onde voas borboleta?
Em que lugar do Oceano te debruças
sobre a janela altiva
oscilando o brinco
exercitando dedos soltos
libertos de sandálias claras
entrenuvens.
Interrogo da tua cor bronze
no contraste da linha azul
que intercepta o teu olhar
esvazia o espaço curto
que separa campainhas
vozes dispersas de partidas
chegadas.
E te digo
num sopro sentido de primeira vez
quanto senti a tua falta
essa ausência de metade
incompleto dividido.
E te digo
quanto te quero
mais e mais
numa chuva interdita de cataratas
intermitente
interminável.
E te digo
bom é ter de novo
a flor do teu sorriso
jardim suspenso onde pousa o sonho.
na nave pululante de outras asas abertas
onde voas borboleta?
Em que lugar do Oceano te debruças
sobre a janela altiva
oscilando o brinco
exercitando dedos soltos
libertos de sandálias claras
entrenuvens.
Interrogo da tua cor bronze
no contraste da linha azul
que intercepta o teu olhar
esvazia o espaço curto
que separa campainhas
vozes dispersas de partidas
chegadas.
E te digo
num sopro sentido de primeira vez
quanto senti a tua falta
essa ausência de metade
incompleto dividido.
E te digo
quanto te quero
mais e mais
numa chuva interdita de cataratas
intermitente
interminável.
E te digo
bom é ter de novo
a flor do teu sorriso
jardim suspenso onde pousa o sonho.
Vanessa Mae Destiny
O violino é de cristal, a música é divinal e cheia de movimento, as cores do vestido são uma tela de cores e por fim há dança- uma arte em falta na nossa poesia.
Espero que gostem!
Espero que gostem!
domingo, 22 de março de 2009
Obrigada José
Obrigada (sobretudo) ao José Ferreira, mas também à Liliana, António, Marlene e outros(as) que mantêm vivo este cantinho, para que quem cá vem espreitar (como eu), não encontre apenas uma teia abandonada por “aranhas” muito ocupadas (como eu).
Obrigada José !
Saudações poéticas a tod@s
Teresa
… p.f. marquem lá outro jantar ;)
Obrigada José !
Saudações poéticas a tod@s
Teresa
… p.f. marquem lá outro jantar ;)
sábado, 21 de março de 2009
O hotel das camélias
Atiças-me a verbe o corpo quente
e eu descalço enfermo de mola presa
que me lance em frente na parede
dos teus braços azul organdi.
Voar no teu desejo
como oferta indefesa
dobrando asas no meu
tão refletido
no hotel das camélias.
Severa batalha de palavras
dissimuladas de metáforas e sentidos
feitas na impossibilidade ou não
de transformar a inferior realidade
na volumetria par de pupilas
como seta certa na entrega
de uma carícia de distância
canto gozo dança
tão visível interiormente
ao mesmo tempo
nos cruzados azuis e negros
olhares enfeites.
Avança um rubor de sorrisos
reactivos à mão estendida
na sede da seda dos pés
por debaixo da mesa.
e eu descalço enfermo de mola presa
que me lance em frente na parede
dos teus braços azul organdi.
Voar no teu desejo
como oferta indefesa
dobrando asas no meu
tão refletido
no hotel das camélias.
Severa batalha de palavras
dissimuladas de metáforas e sentidos
feitas na impossibilidade ou não
de transformar a inferior realidade
na volumetria par de pupilas
como seta certa na entrega
de uma carícia de distância
canto gozo dança
tão visível interiormente
ao mesmo tempo
nos cruzados azuis e negros
olhares enfeites.
Avança um rubor de sorrisos
reactivos à mão estendida
na sede da seda dos pés
por debaixo da mesa.
Dia Mundial da Poesia
Queria deixar alguma poesia maior de poetas maiores. Procurei e encontrei este poema
"Mãe" de Eugénio de Andrade, bem declamado, falando de rosas brancas, motivo essencial para juntar o inicio da Primavera.
Hoje é o dia Mundial da Poesia e como tal como se diz no poema o melhor é escolher um pequeno minuto, num dia tão grande e fechar os olhos: deixar-nos "ir com as aves".
"Mãe" de Eugénio de Andrade, bem declamado, falando de rosas brancas, motivo essencial para juntar o inicio da Primavera.
Hoje é o dia Mundial da Poesia e como tal como se diz no poema o melhor é escolher um pequeno minuto, num dia tão grande e fechar os olhos: deixar-nos "ir com as aves".
sexta-feira, 20 de março de 2009
O poema da interrogação
Será que sou azeite e ando à tona
ou devido à gota detergente
disperso de aura poética
me afundo num mar mais profundo
nos limos da irrealidade?
Vi nascer de frente um outro braço
um ombro, um queixo, um lábio
indeciso, curioso
e pouco a pouco um outro rosto
igual ao meu do lado oposto.
Quiz conhecê-lo falar com ele.
As palavras eram mudas de aquário
e subiam envolvidas de balão
aflitas de paredes finas, leves
tão leves que as via subir as copas verdes
as asas espantadas dos pássaros
e por fim caíam em pedaços
feitas de letras, ideias aos cacos.
Sempre subiam e sempre caíam
de rotina surreal vendo o céu
pleno de palavras
e de as perder líquidas
num imenso areal.
Da mesma forma que não se distingue
a gota no mar
o rosto, a boca, o cabelo
dissolveu-se
e fiquei sem saber qual a razão?
Se e se por acaso era um outro eu?
O que diria? O que queria?
Fiquei à toa na tona do ar
e os passos parados
recusaram andar.
Gota de azeite? Gota de mar?
Floco sem vento nos braços do ar?
Que serei afinal?
ou devido à gota detergente
disperso de aura poética
me afundo num mar mais profundo
nos limos da irrealidade?
Vi nascer de frente um outro braço
um ombro, um queixo, um lábio
indeciso, curioso
e pouco a pouco um outro rosto
igual ao meu do lado oposto.
Quiz conhecê-lo falar com ele.
As palavras eram mudas de aquário
e subiam envolvidas de balão
aflitas de paredes finas, leves
tão leves que as via subir as copas verdes
as asas espantadas dos pássaros
e por fim caíam em pedaços
feitas de letras, ideias aos cacos.
Sempre subiam e sempre caíam
de rotina surreal vendo o céu
pleno de palavras
e de as perder líquidas
num imenso areal.
Da mesma forma que não se distingue
a gota no mar
o rosto, a boca, o cabelo
dissolveu-se
e fiquei sem saber qual a razão?
Se e se por acaso era um outro eu?
O que diria? O que queria?
Fiquei à toa na tona do ar
e os passos parados
recusaram andar.
Gota de azeite? Gota de mar?
Floco sem vento nos braços do ar?
Que serei afinal?
Father and Son
Esta era um dos minhas canções favoritas quando era filho e tinha 17 anos dedico-a neste nosso blogue ao meu filho da mesma idade Francisco e ao mais pequeno de treze
Gonçalo faço a ponte para completar neste dia do Pai. Desculpem a invasão.
Gonçalo faço a ponte para completar neste dia do Pai. Desculpem a invasão.
quinta-feira, 19 de março de 2009
Princípio bom
Comigo eram três e por fim eram cinco
quando nasci fruto de um princípio bom
um pai que ainda está de cabelos ao vento
brancos de oitenta.
Conta-me ainda da mesma forma
os passeios de andas nos riachos
as quedas do marfim à frente
nas brincadeiras de criança
uma vez...e outra...e outra
com a mesma graça.
Estende no olhar a história difícil
de uma grande guerra de dor, fome
e ameaça; a altura em que viu partir
os muitos irmãos nas terras de Álvares
e Bolívar- os anos sem casa cheia
nos destinos díspares ausências
nas margens de um Oceano.
Ele e ela dois nós cinco somos
sete gomos do mesmo fruto
princípio bom
onde há mais sumos de futuro.
Um pouco surdo de ruídos telegrafista
nos tempos onde os segredos eram achas
fogueiras bruleantes de uma nova Inquisição
sem liberdades feitos de estátuas
pedras de um jogo obediente:
quem ouvia calava, quem sabia assobiava
quem sofria era ilha que gritava na DGS
era esse o estado da Nação; mãos postas
bolas relvadas no chão um fado cansado.
Um Setembro passado ouve festa
casou-se a primeira neta.
Este Dezembro montou-se o presépio
uma bisneta de mãos estendidas
olhos fechados a boca aberta
linda...linda...tão pequenina.
(A mim só de filhos deu-me a saudade
de uma menina)
Não sei se lhe dar este poema
estes traços de verdade
factos precisos de meu pai.
Concerteza o abraço forte
beijos de face no sorriso da testa
e dizer emocionado que ainda
somos sete. Responderá "obrigado"
e dirá ao meu presente que não era
preciso.
Não sei dos outros e tantos são
falo do meu
do princípio bom
de mim nada digo
aguardo as palavras dos meus filhos.
quando nasci fruto de um princípio bom
um pai que ainda está de cabelos ao vento
brancos de oitenta.
Conta-me ainda da mesma forma
os passeios de andas nos riachos
as quedas do marfim à frente
nas brincadeiras de criança
uma vez...e outra...e outra
com a mesma graça.
Estende no olhar a história difícil
de uma grande guerra de dor, fome
e ameaça; a altura em que viu partir
os muitos irmãos nas terras de Álvares
e Bolívar- os anos sem casa cheia
nos destinos díspares ausências
nas margens de um Oceano.
Ele e ela dois nós cinco somos
sete gomos do mesmo fruto
princípio bom
onde há mais sumos de futuro.
Um pouco surdo de ruídos telegrafista
nos tempos onde os segredos eram achas
fogueiras bruleantes de uma nova Inquisição
sem liberdades feitos de estátuas
pedras de um jogo obediente:
quem ouvia calava, quem sabia assobiava
quem sofria era ilha que gritava na DGS
era esse o estado da Nação; mãos postas
bolas relvadas no chão um fado cansado.
Um Setembro passado ouve festa
casou-se a primeira neta.
Este Dezembro montou-se o presépio
uma bisneta de mãos estendidas
olhos fechados a boca aberta
linda...linda...tão pequenina.
(A mim só de filhos deu-me a saudade
de uma menina)
Não sei se lhe dar este poema
estes traços de verdade
factos precisos de meu pai.
Concerteza o abraço forte
beijos de face no sorriso da testa
e dizer emocionado que ainda
somos sete. Responderá "obrigado"
e dirá ao meu presente que não era
preciso.
Não sei dos outros e tantos são
falo do meu
do princípio bom
de mim nada digo
aguardo as palavras dos meus filhos.
quarta-feira, 18 de março de 2009
O poema violáceo
Violácea cor de fim de sol
no filtro de hera invasiva
sinal determinado de diferença
no esmalte de um papel vazio
branco, escutando as palavras;
pós invisíveis no recanto
do jardim.
O baloiço forçado no chinelo
arqueando o pé, trincando o lábio
embalando o verso nos poros da pele
creme protector dos sítios adversos
do lado de lá das grades onde passam
ausentes os obrigados dementes
presos de destinos sem tempo.
A brisa enrosca suspiros de tinta
fina, china, definida, nascente
de poemas sem título escorrente
como plúvias gotas de vidro polido
onde se decalcam transparentes linhas
focos giratórios de sirenes
luzes nos tuneis de razias.
Fica adstrito no sopro do vento
repetido, amigo, o toque, a companhia
alegrando os torrões onde se passeiam lírios
se esticam as estrelícias de folhas largas
o são aroma despoluído de jasmim trepadiço
as cores rubra e violeta de buganvílias
como paletas dançantes no fluir de tons
fluir de sons no Universo à parte violáceo
de poemas no fim de tarde no jardim.
no filtro de hera invasiva
sinal determinado de diferença
no esmalte de um papel vazio
branco, escutando as palavras;
pós invisíveis no recanto
do jardim.
O baloiço forçado no chinelo
arqueando o pé, trincando o lábio
embalando o verso nos poros da pele
creme protector dos sítios adversos
do lado de lá das grades onde passam
ausentes os obrigados dementes
presos de destinos sem tempo.
A brisa enrosca suspiros de tinta
fina, china, definida, nascente
de poemas sem título escorrente
como plúvias gotas de vidro polido
onde se decalcam transparentes linhas
focos giratórios de sirenes
luzes nos tuneis de razias.
Fica adstrito no sopro do vento
repetido, amigo, o toque, a companhia
alegrando os torrões onde se passeiam lírios
se esticam as estrelícias de folhas largas
o são aroma despoluído de jasmim trepadiço
as cores rubra e violeta de buganvílias
como paletas dançantes no fluir de tons
fluir de sons no Universo à parte violáceo
de poemas no fim de tarde no jardim.
A canção de Simone
Não tive tempo de adormecer
colorir de novo as penas de esperança.
A pele eriçou finos pêlos.
Restou a posição suporte
fetal.
Lembrei a lente de aro de prata
nos tempos de escola que aproximava
voava acima ao distinto pormenor
invertia a insignificância
na qual me sinto agora
reduzido e gasto.
Consciência de não retorno
e o ser capaz de ter olhos
nas costas contando
as marcas cada vez
mais longínquas de tantos anos.
Necessidade sufocada de sair
longe do ruído, do fútil
inútil distrair de afluentes.
Nas noites fundamentais
acendem-se lumes
aquecem-se bules
de madressilva e malmequeres
que espremem a ciência desfigurada
de ínvios destinos.
Firmam-se as gotas perenes salinas
e como diz Simone:
"a gente inventa qualquer coisa
p'rá ser feliz"
recupera a tentativa, reaviva
"se apaixona por um actor
por uma actriz"
e "ri à toa p'rá não chorar"
e "ri à toa p'rá não chorar"
colorir de novo as penas de esperança.
A pele eriçou finos pêlos.
Restou a posição suporte
fetal.
Lembrei a lente de aro de prata
nos tempos de escola que aproximava
voava acima ao distinto pormenor
invertia a insignificância
na qual me sinto agora
reduzido e gasto.
Consciência de não retorno
e o ser capaz de ter olhos
nas costas contando
as marcas cada vez
mais longínquas de tantos anos.
Necessidade sufocada de sair
longe do ruído, do fútil
inútil distrair de afluentes.
Nas noites fundamentais
acendem-se lumes
aquecem-se bules
de madressilva e malmequeres
que espremem a ciência desfigurada
de ínvios destinos.
Firmam-se as gotas perenes salinas
e como diz Simone:
"a gente inventa qualquer coisa
p'rá ser feliz"
recupera a tentativa, reaviva
"se apaixona por um actor
por uma actriz"
e "ri à toa p'rá não chorar"
e "ri à toa p'rá não chorar"
terça-feira, 17 de março de 2009
O poeta aprendiz
Num blogue de poetas aprendizes este video de Vinicius e Toquinho acho que fica bem.
Dias plenos de poesia e já agora publiquem-se!!
Dias plenos de poesia e já agora publiquem-se!!
Um poema de Mar
Não há dúvida que o dia foi convite de passeio à beira-mar como tal encontrei este poema de Sophia de Mello Andresen e esta pintura de Picasso
Mulheres à beira-mar
Confundindo os seus cabelos com os cabelos do vento
têm o seu corpo feliz de ser tão seu e tão denso em plena
liberdade.
Lançam os braços pela praia fora e a brancura dos seus
pulsos penetra nas espumas.
Passam aves de asas agudas e a curva dos seus olhos
prolonga o interminável rastro no céu branco.
Com a boca colada no horizonte aspiram longamente
a virgindade de um mundo que nasceu.
O extremo dos seus dedos toca o cimo de delícia
e vertigem onde o ar acaba e começa.
E aos ombros cola-se uma alga feliz de ser tão verde.
segunda-feira, 16 de março de 2009
Lírios
ÁRVORE À BEIRA DA AUTO-ESTRADA
Árvore que te deleitas com o pôr-do-sol,
após febril temperatura longas horas,
um eterno dia sob poderosos raios solares
que te despertaram,
que te deram vida!...
Fizeram-te ferver a seiva,
e levaram-te ao esquecimento
do quanto és escrava
do teu espaço, do teu chão
e do incomensurável Tempo...
Tu pareces estátua silenciosa,
pacata, quieta, muda;
mas não és desdém, nem coisa simples
espetada à beira da auto-estrada!...
És coisa bem viva, sempre atenta,
absolutamente erecta, em ortostatismo sereno;
contudo, a teu lado jazem tantas raízes
no sub-solo, sob o asfalto carrasco!...
Tentas ignorar um tal sacrilégio,
creio sim que és um pouco humana:
- cúmplice dos silêncios,
arrancados à tenaz penumbra
e companheiros íntimos do luar!
- teus braços e folhagem
dialogam com pacatos, ou tremendos ventos,
aceitando-os perdidamente
com muita paixão;
mas não bastam para casamento,
pois perderiam a liberdade, a autonomia,
e não dançariam mais
ao sabor das tempestades, ou das geadas,
ou do intrépido mas temível granizo!...
Não mereces que um terramoto
esventre as tuas raízes,
ou te derrube sem nexo, sem ponderada explicação,
e sem dignidade, ou sem honra...
...Sim! Sei que nunca aceitarás comiseração,
uma qualquer espécie de piedade,
apesar da vida única e solitária
que aceitas como teu Destino!
...Serás sempre uma bela árvore frondosa,
aqui plantada à beira da auto-estrada;
centenária, mas eternamente bonita ,
caprichosa mas vital ao ser humano,
e força arrebatadora que eu preciso
para me erguer ,
em dias menos construtivos da minha Vida,
que eu persigo e tanto quero
sem pinga de escravidão!...
( António Luíz , 10-03-2009 , durante viagem de regresso
a casa, na A1 - percurso entre Amarante e Porto )
após febril temperatura longas horas,
um eterno dia sob poderosos raios solares
que te despertaram,
que te deram vida!...
Fizeram-te ferver a seiva,
e levaram-te ao esquecimento
do quanto és escrava
do teu espaço, do teu chão
e do incomensurável Tempo...
Tu pareces estátua silenciosa,
pacata, quieta, muda;
mas não és desdém, nem coisa simples
espetada à beira da auto-estrada!...
És coisa bem viva, sempre atenta,
absolutamente erecta, em ortostatismo sereno;
contudo, a teu lado jazem tantas raízes
no sub-solo, sob o asfalto carrasco!...
Tentas ignorar um tal sacrilégio,
creio sim que és um pouco humana:
- cúmplice dos silêncios,
arrancados à tenaz penumbra
e companheiros íntimos do luar!
- teus braços e folhagem
dialogam com pacatos, ou tremendos ventos,
aceitando-os perdidamente
com muita paixão;
mas não bastam para casamento,
pois perderiam a liberdade, a autonomia,
e não dançariam mais
ao sabor das tempestades, ou das geadas,
ou do intrépido mas temível granizo!...
Não mereces que um terramoto
esventre as tuas raízes,
ou te derrube sem nexo, sem ponderada explicação,
e sem dignidade, ou sem honra...
...Sim! Sei que nunca aceitarás comiseração,
uma qualquer espécie de piedade,
apesar da vida única e solitária
que aceitas como teu Destino!
...Serás sempre uma bela árvore frondosa,
aqui plantada à beira da auto-estrada;
centenária, mas eternamente bonita ,
caprichosa mas vital ao ser humano,
e força arrebatadora que eu preciso
para me erguer ,
em dias menos construtivos da minha Vida,
que eu persigo e tanto quero
sem pinga de escravidão!...
( António Luíz , 10-03-2009 , durante viagem de regresso
a casa, na A1 - percurso entre Amarante e Porto )
A casa incendiada-o sonho irreversível e os outros
Queria falar-te do sonho irreversível
daquele que as cinzas inumanas
transformaram no carbono elementar
escuro.Não há pois mais que fechar
portas e janelas que o não são
de chamas consumidas; pós negros
tintas de borbulhas escarlatinas
memórias de faíscas lancinantes.
São vãos os tectos de estuque em pedaços
relevos e alegorias resumidas a tabique
esmiuçado, inexistente nas aberturas
de golpes de água e gritos de machado
abrindo junto ao candeeiro na calçada
o nítido esquadro onde cresce noite
desce a lua se acende a madrugada.
A realidade torna-se dura de deserto
no bico dos abutres da cidade despertada.
Mas há os outros, os outros sonhos
os encobertos, que nascem sem balizas
como pedras sem dono alterando superfícies
paradas de charcos. Os visíveis
só presentes como alguém distante
que bate à nossa porta fora de horas
de armadura e alicerces mais fortes
que os maus dias de facas afiadas
que o sonho irreversível
da casa inccendiada.
daquele que as cinzas inumanas
transformaram no carbono elementar
escuro.Não há pois mais que fechar
portas e janelas que o não são
de chamas consumidas; pós negros
tintas de borbulhas escarlatinas
memórias de faíscas lancinantes.
São vãos os tectos de estuque em pedaços
relevos e alegorias resumidas a tabique
esmiuçado, inexistente nas aberturas
de golpes de água e gritos de machado
abrindo junto ao candeeiro na calçada
o nítido esquadro onde cresce noite
desce a lua se acende a madrugada.
A realidade torna-se dura de deserto
no bico dos abutres da cidade despertada.
Mas há os outros, os outros sonhos
os encobertos, que nascem sem balizas
como pedras sem dono alterando superfícies
paradas de charcos. Os visíveis
só presentes como alguém distante
que bate à nossa porta fora de horas
de armadura e alicerces mais fortes
que os maus dias de facas afiadas
que o sonho irreversível
da casa inccendiada.
domingo, 15 de março de 2009
Um poema diferente
Ana Hatherly fez esta poesia com garra, com "dente":
ESTA GENTE/ESSA GENTE
O que é preciso é gente
gente com dente
gente que tenha dente
que mostre o dente
Gente que seja decente
nem docente
nem docemente
nem delicodocemente
Gente com mente
com sã mente
que sinta que não mente
que sinta o dente são e a mente
Gente que enterre o dente
que fira de unhas e dente
e mostre o dente potente
ao prepotente
O que é preciso é gente
que atire fora com essa gente
ESTA GENTE/ESSA GENTE
O que é preciso é gente
gente com dente
gente que tenha dente
que mostre o dente
Gente que seja decente
nem docente
nem docemente
nem delicodocemente
Gente com mente
com sã mente
que sinta que não mente
que sinta o dente são e a mente
Gente que enterre o dente
que fira de unhas e dente
e mostre o dente potente
ao prepotente
O que é preciso é gente
que atire fora com essa gente
sexta-feira, 13 de março de 2009
A magnólia digna autónoma
Mais do que antes nos jardins meios
de muros e portões da cidade velha
assomam violetas flores de magnólia
no cair leve de braços abertos.
Não é ainda a hora certa de Março
pois o pouco sol e as gotas de chuva
por vezes caudalosa invade condiciona
a síntese verde de clorofila nos canteiros
sem vestidos de cor habitual.
Indiferente a magnólia de árvore
ou no chão. Digna autónoma
no lugar que é o seu
imagem virtual de um espelho de flores
compostas ou desmanchadas
entre as que ficam definidas no ar
e as que caem e vão soltas nos dedos
de terra e raízes.
Pétalas grossas de duas cores
que ninguém ousa perturbar
nem as aves que visitam os ramos
nem aqueles que se perdem no momento
de ver algumas naquele instante
abrir descair pousar.
quinta-feira, 12 de março de 2009
o muro e o destino
céu da boca no escuro
assobia para o futuro
comprometido véu
retrocede à voz
melhor não cantar
nada vai passar
olhar no chão desligado
esconde o fado findo
não vá bater no muro
travão do destino
melhor não cantar
nada leva a saltar
assobios arremasados
pedras ensimesmadas
no muro com um pé direito
de ruínas de altura,
rebatendo-se
na ternura da chuva
última voz do destino
refeito
em curvas revestidas
a ecos de
ondas
dentro das tuas luvas
onde sem demora morro,
mora o som
afogado
onde é
melhor não cantar
assobia para o futuro
comprometido véu
retrocede à voz
melhor não cantar
nada vai passar
olhar no chão desligado
esconde o fado findo
não vá bater no muro
travão do destino
melhor não cantar
nada leva a saltar
assobios arremasados
pedras ensimesmadas
no muro com um pé direito
de ruínas de altura,
rebatendo-se
na ternura da chuva
última voz do destino
refeito
em curvas revestidas
a ecos de
ondas
dentro das tuas luvas
onde sem demora morro,
mora o som
afogado
onde é
melhor não cantar
quarta-feira, 11 de março de 2009
David e Golias
Não é estranha a sorte da pedra ou seixo
que derrotou Golias num golpe de perícia
depois de usada no dano irreversível?
Ficou a história do gigante
das grandes mãos da funda ou fisga
mas da pedra ou seixo
não estou esclarecido.
David é figura principal
alguns segundos antes
mas não como arma assassina
essa não existe ou foi mais reduzida
no recorrente efeito abrasivo.
Hoje fosse e o local a romaria
de bandeira e de lembrança.
A pedra ou seixo a heroína
preservada admirada
transparência resultante
de vitrine e pedestal.
O humano é efémero não resiste
no estado original
restaria a pedra ou seixo
como prova e essência
de palavras caídas
na gravura de uma cena
inscrita
na oferta de um postal.
que derrotou Golias num golpe de perícia
depois de usada no dano irreversível?
Ficou a história do gigante
das grandes mãos da funda ou fisga
mas da pedra ou seixo
não estou esclarecido.
David é figura principal
alguns segundos antes
mas não como arma assassina
essa não existe ou foi mais reduzida
no recorrente efeito abrasivo.
Hoje fosse e o local a romaria
de bandeira e de lembrança.
A pedra ou seixo a heroína
preservada admirada
transparência resultante
de vitrine e pedestal.
O humano é efémero não resiste
no estado original
restaria a pedra ou seixo
como prova e essência
de palavras caídas
na gravura de uma cena
inscrita
na oferta de um postal.
Fito-me
Dizes hesitante, inseguro, pouco audaz
o caminho por onde vou
e eu não sei dizer o sim
de passo descoberto
nem como outros
não, por aí, por aí não vou.
caminho longamente junto à praia
escondo o outro sal jorrando dentro
e quando alguém me fita mais seriamente
falo do horário, do tempo, do vago
num olhar sem carapaça
e aguardo agulhas finas
que espicaçam
por onde devo ir...
por aqui ou por ali?
qual o lugar?
Fito-me e visto-me interiormente
de penas e já não quero ir...
quero voar.
o caminho por onde vou
e eu não sei dizer o sim
de passo descoberto
nem como outros
não, por aí, por aí não vou.
caminho longamente junto à praia
escondo o outro sal jorrando dentro
e quando alguém me fita mais seriamente
falo do horário, do tempo, do vago
num olhar sem carapaça
e aguardo agulhas finas
que espicaçam
por onde devo ir...
por aqui ou por ali?
qual o lugar?
Fito-me e visto-me interiormente
de penas e já não quero ir...
quero voar.
terça-feira, 10 de março de 2009
Poesia de Nuno Júdice/jardins de Monet
Passeio
Um jardim tem avenidas, áleas, alamedas, buxos
e canteiros. Por aí passam as águas das grandes chuvas
de setembro. Num jardim também há bancos, fontes,
lagos, estátuas, grutas, muros e labirintos. O vento
anda por aí, sobre as águas e entre
os interstícios. E há ainda árvores, arbustos, flores,
folhas e troncos caídos. O dia e a noite confundem-se,
por vezes, nalgumas das suas clareiras. E há também
o teu corpo, num jardim. Abraço-o, apesar das águas
e dos ventos, sob o dia e a noite das grandes
folhagens adormecidas. Por vezes, encosto o teu corpo
contra o tronco do cipreste; de outras vezes, deito-o
sobre a relva que o inverno fortaleceu. Gosto
desse corpo de terra e de raízes; mas vejo-o também
à transparência do pólen e das sementes brancas da
primavera. Passeio assim no jardim do teu
corpo: sento-me nos seus bancos; navego no seu lago;
colho as suas pétalas mais húmidas. Nunca sei
se é dia ou se é noite neste jardim; nem se a chuva
cai ou o vento sopra. O que eu sei é que todos os
canteiros vão dar às flores que brotam da tua voz; e
que no lago do teu sorriso navega este barco de papel.
Nuno Júdice
Cartografia de Emoções - Publicações D. Quixote
Esmeralda a gata siamesa
Tanto queima o astro dourado
no manípulo da porta azul
sólida madeira exótica.
Por dentro duas janelas pequenas
de vidro fosco atrás do gradeado
uma campainha de alavanca
som de Madalenas.
Aguardo
no meio de buzinas e ar pesado
por onde passam
os brilhos "lipstick" da modernidade
cor de maracujá
face pó de arroz a pinta preta
cabelos em golpes rubi
verde junco estranho;
do lado de cá
os clichés vários da cidade.
Quando se entra há surpresa
nos tectos altos do passado;
jarros na jarra de um metro
solitário vidro majestático
o lustre de cristal.
Cera acesa em três velas
cor de rosa
no móvel polido vinhático.
De súbito o rangido a desfilada
na ampla estrada da claraboia
projetada de vidros multicolores.
Na ganga coçada na blusa branca
és a nota dissonante - a pérola.
Ouço passos lentos apoios de bengala
vejo um rosto de rugas em cima
debruçado sobre a escada.
Coras um pouco olhas para trás
mesmmo assim soltas os lábios
nos meus olhos de estorninho
no meu ar tão asssustado.
Dizes que suba
à salinha de costura
onde dorme a Esmeralda:
a gata siamesa e a ninhada
(oito linhas remeladas)
todos bem e de saúde
graças a avó e neta
e à Maria Antonieta - a empregada
no parto às três da manhã
segunda-feira passada.
no manípulo da porta azul
sólida madeira exótica.
Por dentro duas janelas pequenas
de vidro fosco atrás do gradeado
uma campainha de alavanca
som de Madalenas.
Aguardo
no meio de buzinas e ar pesado
por onde passam
os brilhos "lipstick" da modernidade
cor de maracujá
face pó de arroz a pinta preta
cabelos em golpes rubi
verde junco estranho;
do lado de cá
os clichés vários da cidade.
Quando se entra há surpresa
nos tectos altos do passado;
jarros na jarra de um metro
solitário vidro majestático
o lustre de cristal.
Cera acesa em três velas
cor de rosa
no móvel polido vinhático.
De súbito o rangido a desfilada
na ampla estrada da claraboia
projetada de vidros multicolores.
Na ganga coçada na blusa branca
és a nota dissonante - a pérola.
Ouço passos lentos apoios de bengala
vejo um rosto de rugas em cima
debruçado sobre a escada.
Coras um pouco olhas para trás
mesmmo assim soltas os lábios
nos meus olhos de estorninho
no meu ar tão asssustado.
Dizes que suba
à salinha de costura
onde dorme a Esmeralda:
a gata siamesa e a ninhada
(oito linhas remeladas)
todos bem e de saúde
graças a avó e neta
e à Maria Antonieta - a empregada
no parto às três da manhã
segunda-feira passada.
segunda-feira, 9 de março de 2009
Estalo
Um estalo
súbito
num embalo
súbdito
mumifica
conserva-se
como servo
até gotas salgadas
o derreterem
em carne
viva outra vez
súbito
num embalo
súbdito
mumifica
conserva-se
como servo
até gotas salgadas
o derreterem
em carne
viva outra vez
domingo, 8 de março de 2009
Dia da Mulher
Corpo a Copo - nova versão
Vivam!
Os audazes dias
Dos capazes
Ébrios alados
Que em ondas fantasias
Afogados
Fazem as pazes ao sol
Nas tréguas
Praias douradas
De um copo de etanol
Ah!... a eterna promessa
De um copo
Onde é vinho e findo
O torto
Medo de ser
Só um corpo
Onde é tinto ou branco
Ou Porto
Ou um modo de ser
Bem-vindo
E de corpo a copo
Eu brindo
Ao dia da garrafa bebido
Que assim vai esvai
Fugindo
Consumido
E nessa sede
Constante
O dia longo é instante
Que pouco sente
O dormente
Verter das horas
Em que a beber
Comemoras
O fim de um dia errante
Mas,
Se ainda que distante
Vejas na borda do corpo
O temor que bem pressentes
Mergulha fundo no copo
Dos contentes
Os audazes dias
Dos capazes
Ébrios alados
Que em ondas fantasias
Afogados
Fazem as pazes ao sol
Nas tréguas
Praias douradas
De um copo de etanol
Ah!... a eterna promessa
De um copo
Onde é vinho e findo
O torto
Medo de ser
Só um corpo
Onde é tinto ou branco
Ou Porto
Ou um modo de ser
Bem-vindo
E de corpo a copo
Eu brindo
Ao dia da garrafa bebido
Que assim vai esvai
Fugindo
Consumido
E nessa sede
Constante
O dia longo é instante
Que pouco sente
O dormente
Verter das horas
Em que a beber
Comemoras
O fim de um dia errante
Mas,
Se ainda que distante
Vejas na borda do corpo
O temor que bem pressentes
Mergulha fundo no copo
Dos contentes
sexta-feira, 6 de março de 2009
Vicky Cristina Barcelona
Tu és tão forte
Abeira-te a morte
E a vida
Na mesma intensa
Corrida
Flor vermelha
Bem garrida
Do teu sangue quente
Escorre
Toda a paixão
Que te move
Tu és tão doce
Antes da paixão
A posse
De um amor
Que consumiu
Todas as notas
Da guitarra
Que bem assim te tocava
E a tua flor abriu
Só no fim tu percebeste
Que pouco afinal te moveste
E foi o amor quem fugiu
Tu és tão livre
Solta-te ao mundo
E vive
Procurando procurar
Quem tu és
Já pouco conta
Tu és quem sempre te encontra
És prémio de quem achar
Só no fim tu percebeste
Que parada te moveste
Sem nunca deixares de andar
Abeira-te a morte
E a vida
Na mesma intensa
Corrida
Flor vermelha
Bem garrida
Do teu sangue quente
Escorre
Toda a paixão
Que te move
Tu és tão doce
Antes da paixão
A posse
De um amor
Que consumiu
Todas as notas
Da guitarra
Que bem assim te tocava
E a tua flor abriu
Só no fim tu percebeste
Que pouco afinal te moveste
E foi o amor quem fugiu
Tu és tão livre
Solta-te ao mundo
E vive
Procurando procurar
Quem tu és
Já pouco conta
Tu és quem sempre te encontra
És prémio de quem achar
Só no fim tu percebeste
Que parada te moveste
Sem nunca deixares de andar
Plumas persistentes
Sim é verdade que consinto
necessito
clarear o dia de plumas persistentes
nos ínfimos segundos
libertos: poesia.
Benção de açucena bela e fina
mesmo que o sentido no poema
seja forte de revolta duro de fractura
seja farta tempestade ou vela lassa
mas
sempre os tules transparentes
alvos toques de acalmia
maresias de pele morena.
Aparta-se de mim a alma
na dança breve e segura
e somos dois no mesmo espanto
de milagres de (a)letria
versos de sorvete
mantas de absinto
fatias de sonho estaladiço
na mesma forma à mesma hora
no mesmo dia ao mesmo fio;
um colar de infinito
pontos de luz
que nos funde na distância
na mesma noite de olhos unidos
na lua amiga.
necessito
clarear o dia de plumas persistentes
nos ínfimos segundos
libertos: poesia.
Benção de açucena bela e fina
mesmo que o sentido no poema
seja forte de revolta duro de fractura
seja farta tempestade ou vela lassa
mas
sempre os tules transparentes
alvos toques de acalmia
maresias de pele morena.
Aparta-se de mim a alma
na dança breve e segura
e somos dois no mesmo espanto
de milagres de (a)letria
versos de sorvete
mantas de absinto
fatias de sonho estaladiço
na mesma forma à mesma hora
no mesmo dia ao mesmo fio;
um colar de infinito
pontos de luz
que nos funde na distância
na mesma noite de olhos unidos
na lua amiga.
Um poema de Vinicius
Allegro
Sente como vibra em nós
Doidamente em nós
Um vento feroz
Estorcendo a fibra
Dos caules informes
E as plantas carnívoras
De bocas enormes
Lutam contra as víboras
E os rios soturnos
Ouve como vazam
A água corrompida
E as sombras se casam
Nos raios nocturnos
Da lua perdida
Vinicius de Moraes
Oxford, 1939
Poemas, Sonetos e Baladas - Quasi
Sente como vibra em nós
Doidamente em nós
Um vento feroz
Estorcendo a fibra
Dos caules informes
E as plantas carnívoras
De bocas enormes
Lutam contra as víboras
E os rios soturnos
Ouve como vazam
A água corrompida
E as sombras se casam
Nos raios nocturnos
Da lua perdida
Vinicius de Moraes
Oxford, 1939
Poemas, Sonetos e Baladas - Quasi
quinta-feira, 5 de março de 2009
O tempo é um não retorno e hoje vai parar
A tua voz é minha nesta tarde
Contas-me histórias
Ris histórias
O tempo é todo teu
O tempo és todo tu
Tarde rara de saudade
Feita de beijos e sonhos
Paralelos triste no asfalto
são saudade em pedaços
Ruas de saudade
Levam a maré em sonho
Há poesia nos dias simples
Pinta-se de cor o tempo
Desmarca-se o trabalho
Ordena-se que ninguém morra hoje
Hoje é o dia que parou
O dia em que o tempo parou
O tempo é todo teu
O tempo és todo tu
Saudade
Feita de beijos e sonhos
Vamos dar nomes às estrelas
Faltar ao trabalho
Parar o tempo
Ordenar que ninguém morra hoje
E Contar histórias
Muitas histórias
Até os beijos serem palavras
Contas-me histórias
Ris histórias
O tempo é todo teu
O tempo és todo tu
Tarde rara de saudade
Feita de beijos e sonhos
Paralelos triste no asfalto
são saudade em pedaços
Ruas de saudade
Levam a maré em sonho
Há poesia nos dias simples
Pinta-se de cor o tempo
Desmarca-se o trabalho
Ordena-se que ninguém morra hoje
Hoje é o dia que parou
O dia em que o tempo parou
O tempo é todo teu
O tempo és todo tu
Saudade
Feita de beijos e sonhos
Vamos dar nomes às estrelas
Faltar ao trabalho
Parar o tempo
Ordenar que ninguém morra hoje
E Contar histórias
Muitas histórias
Até os beijos serem palavras
Lento embalo
Vento dobra
Vento dança
dança e leva o meu amor
vento leva o meu amor
dentro dobra
dentro dança o meu amor
lenta lança
fere lenta
fura e dobra minha dor
lento embalo
vento embala minha dor
lento canto
inebria minha dor
vento dobra
choro dentro
dentro dobra minha dor
lento embalo
vento sonha
danço com o meu amor
Vento dança
dança e leva o meu amor
vento leva o meu amor
dentro dobra
dentro dança o meu amor
lenta lança
fere lenta
fura e dobra minha dor
lento embalo
vento embala minha dor
lento canto
inebria minha dor
vento dobra
choro dentro
dentro dobra minha dor
lento embalo
vento sonha
danço com o meu amor
Vicky Barcelona-recuerdos de alhambra
Recuerdos de Alhambra
na guitarra bronzeada de Oviedo.
Cristina submissa
ferida na úlcera de um tanino
-tinto mal digerido-
escapou fugaz em halo de seara
seduziu no abandono louro
a almofada
no terapêutico repouso.
Inebriou Vicky a noite intensa
(húmidos vapores na relva Shakespeare)
e o ponteado crescido de barba rude
face visível de Juan
na oculta raíz de poeta
melodias de Tarrega
a corda sensível.
Vicky Juan o ecrã de lua.
Supomos o chão envolto
na queda unida
romântica sina;
amarelos de Miró
pastilhas de azulejo
fantasias de Gaudi.
Vicky de alça descaída
pés descalços indiferentes
no caminho das formigas
vibra
nas cordas da melodia.
Escrevi este poema no tal desafio de poema sobre o filme de Woody Allen.
Também publiquei a música de que gosto muito.
na guitarra bronzeada de Oviedo.
Cristina submissa
ferida na úlcera de um tanino
-tinto mal digerido-
escapou fugaz em halo de seara
seduziu no abandono louro
a almofada
no terapêutico repouso.
Inebriou Vicky a noite intensa
(húmidos vapores na relva Shakespeare)
e o ponteado crescido de barba rude
face visível de Juan
na oculta raíz de poeta
melodias de Tarrega
a corda sensível.
Vicky Juan o ecrã de lua.
Supomos o chão envolto
na queda unida
romântica sina;
amarelos de Miró
pastilhas de azulejo
fantasias de Gaudi.
Vicky de alça descaída
pés descalços indiferentes
no caminho das formigas
vibra
nas cordas da melodia.
Escrevi este poema no tal desafio de poema sobre o filme de Woody Allen.
Também publiquei a música de que gosto muito.
Poesia sem nome
Ainda não havia nennhuma poesia deste poeta no blogue. gostei desta.
Nomeio constelações uso-as
para me guiarem no receio das noites
escavo corpos na flexibilidade das sombras
atravesso a manhã e ponho a descoberto
a casa onde a infância secou
o olhar desce aos gestos inacabados
satura-os de jovens lágrimas de resinas
e o susto de criança que fui reaviva
um pouco de alegria no coração.
Al Berto (1948-1997)
Vigílias
Nomeio constelações uso-as
para me guiarem no receio das noites
escavo corpos na flexibilidade das sombras
atravesso a manhã e ponho a descoberto
a casa onde a infância secou
o olhar desce aos gestos inacabados
satura-os de jovens lágrimas de resinas
e o susto de criança que fui reaviva
um pouco de alegria no coração.
Al Berto (1948-1997)
Vigílias
quarta-feira, 4 de março de 2009
Dentro
Dentro
Olho dentro
Fundo de mim
Água profunda de indecisão
Água parada de inquietação
Eu dentro
O mundo dentro de mim
O meu mundo em mim
Olho dentro
Entro
Aos poucos
Dentro, dentro, dentro
Não me assusto
Não fujo
Não sei a minha cor
Entro dentro
O mundo fora de mim já não se vê
Está todo dentro
Revestimento interno de caos
Olho dentro
Centro o olhar
Aos pouco entro
Não me assusto
Não fujo
Aceito o caos
O revestimento interno do Homem
A pele interna
Fragmentos de luz e pó
Somos nós
Por dentro
Olho dentro
Água profunda de vida
Morte em abstracção
Desejo de cor
Dentro entro
Interno
Inteiro
Aceito
A paz
Interna
Inteira
A paz
É caos integrado
Não me assusto
Não fujo
Olho dentro
Dentro, dentro, dentro
Até me ver
No teu olhar.
Olho dentro
Fundo de mim
Água profunda de indecisão
Água parada de inquietação
Eu dentro
O mundo dentro de mim
O meu mundo em mim
Olho dentro
Entro
Aos poucos
Dentro, dentro, dentro
Não me assusto
Não fujo
Não sei a minha cor
Entro dentro
O mundo fora de mim já não se vê
Está todo dentro
Revestimento interno de caos
Olho dentro
Centro o olhar
Aos pouco entro
Não me assusto
Não fujo
Aceito o caos
O revestimento interno do Homem
A pele interna
Fragmentos de luz e pó
Somos nós
Por dentro
Olho dentro
Água profunda de vida
Morte em abstracção
Desejo de cor
Dentro entro
Interno
Inteiro
Aceito
A paz
Interna
Inteira
A paz
É caos integrado
Não me assusto
Não fujo
Olho dentro
Dentro, dentro, dentro
Até me ver
No teu olhar.
Tempo da corda
Menina de sabrina
de braços bem abertos,
na corda de tolos encantos
que julgam o tempo encantar:
- Leva uma sombrinha na mão!
Do susto da plateia, da pirueta
que feriu, só palmas,
pela sombra penduradas:
- Mãe, são palmas ao tempo
ou ao tombo?
A ventania assim veio
voava a sombra varada,
agora sem palmas, pendurada:
- Mãe, cresce-se com tempo
ou vento?
Era a noite que se seguia
a corda que desencantava,
a sombra sem sol de bengala:
- Mãe, morreste de tempo ou de alma?
de braços bem abertos,
na corda de tolos encantos
que julgam o tempo encantar:
- Leva uma sombrinha na mão!
Do susto da plateia, da pirueta
que feriu, só palmas,
pela sombra penduradas:
- Mãe, são palmas ao tempo
ou ao tombo?
A ventania assim veio
voava a sombra varada,
agora sem palmas, pendurada:
- Mãe, cresce-se com tempo
ou vento?
Era a noite que se seguia
a corda que desencantava,
a sombra sem sol de bengala:
- Mãe, morreste de tempo ou de alma?
Não é por isso
Não é por isso que escrevo
pelos teus olhos doces
é pouco
pelos mimos nos teus lábios
de sorrisos aos meus hinos
e ensaios de assobios
não é por isso.
Sabes que gosto da surpresa
do toque no ombro esquerdo
e do beijo que me espera
no oposto tão perfeito.
Mas não é por isso que escrevo
o poema líquido e puro
num harpejo de candura.
Não é por isso
que se solta a penugem
alta e baixa na brisa
branca e lenta
em círculos de mariposa
sobre as folhas
peso leve
harmonia e suave movimento.
Encostas por vezes o queixo
sopras
no meu corpo de costas
a estrofe mágica
um segredo
mas não é por isso
só por isso o desvario:
isso tanto e isso tudo
que desejo.
Por ti escrevo a sombra no sol
naquela luz que vem de dentro
(células rosa em dança viva)
que me invade e hilaria
na graça dos teus braços
maré cheia.
E ainda é mais do que isso
porque escrevo:
preciso de inventar outra forma de dizer
mais do que existe
e me aproxima dentro de ti
de viver no Paraíso.
pelos teus olhos doces
é pouco
pelos mimos nos teus lábios
de sorrisos aos meus hinos
e ensaios de assobios
não é por isso.
Sabes que gosto da surpresa
do toque no ombro esquerdo
e do beijo que me espera
no oposto tão perfeito.
Mas não é por isso que escrevo
o poema líquido e puro
num harpejo de candura.
Não é por isso
que se solta a penugem
alta e baixa na brisa
branca e lenta
em círculos de mariposa
sobre as folhas
peso leve
harmonia e suave movimento.
Encostas por vezes o queixo
sopras
no meu corpo de costas
a estrofe mágica
um segredo
mas não é por isso
só por isso o desvario:
isso tanto e isso tudo
que desejo.
Por ti escrevo a sombra no sol
naquela luz que vem de dentro
(células rosa em dança viva)
que me invade e hilaria
na graça dos teus braços
maré cheia.
E ainda é mais do que isso
porque escrevo:
preciso de inventar outra forma de dizer
mais do que existe
e me aproxima dentro de ti
de viver no Paraíso.
segunda-feira, 2 de março de 2009
Mosca espera o terceiro pensamento
Criei esta rotina de sempre descansar um pouco o olhar nas palavras de alguns poetas
um pouco antes de deitar. Só o título deste poema de Ondjaki já é magnífico e por isso resolvi publicar.
Mosca espera o terceiro pensamento
uma mosca parada
dominou o sol.
estive a olhá-la
mas ela não.
em sopro
não se mexeu.
em aproximação de aranha
não se rendeu.
seus olhares aquietos
rebolam a tarde.
uma mosca parada
pode incomodar uma pessoa.
Ondjaki
(Publicada no livro oferta do jornal de letras)
um pouco antes de deitar. Só o título deste poema de Ondjaki já é magnífico e por isso resolvi publicar.
Mosca espera o terceiro pensamento
uma mosca parada
dominou o sol.
estive a olhá-la
mas ela não.
em sopro
não se mexeu.
em aproximação de aranha
não se rendeu.
seus olhares aquietos
rebolam a tarde.
uma mosca parada
pode incomodar uma pessoa.
Ondjaki
(Publicada no livro oferta do jornal de letras)
domingo, 1 de março de 2009
O Espírito
Lembrei-me de um verso de uma poesia que ficou na memória, lançada no improviso fácil
da declamante Ana Luísa: "eu sou do bando impermanente das aves friorentas". O poema era de Natália Correia, encontrei-o e resolvi partilhar.
O Espírito
Nada a fazer amor, eu sou do bando
Impermanente das aves friorentas;
E nos galhos dos anos desbotando
Já as folhas me ofuscam macilentas;
E vou com as andorinhas. Até quando
À vida breve não perguntes: cruentas
Rugas me humilham. Não mais em estilo brando
Ave estroina serei em mãos sedentas.
Pensa-me eterna que o eterno gera
Quem na amada o conjura. Além, mais alto,
Em ileso beiral, aí espera:
Andorinha indemne ao sobressalto
Do tempo, núncia de perene primavera.
Confia. Eu sou romântica. Não falto.
Natália Correia
da declamante Ana Luísa: "eu sou do bando impermanente das aves friorentas". O poema era de Natália Correia, encontrei-o e resolvi partilhar.
O Espírito
Nada a fazer amor, eu sou do bando
Impermanente das aves friorentas;
E nos galhos dos anos desbotando
Já as folhas me ofuscam macilentas;
E vou com as andorinhas. Até quando
À vida breve não perguntes: cruentas
Rugas me humilham. Não mais em estilo brando
Ave estroina serei em mãos sedentas.
Pensa-me eterna que o eterno gera
Quem na amada o conjura. Além, mais alto,
Em ileso beiral, aí espera:
Andorinha indemne ao sobressalto
Do tempo, núncia de perene primavera.
Confia. Eu sou romântica. Não falto.
Natália Correia
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