sábado, 26 de fevereiro de 2011
(escrita pouco inocente)
Richard Avedon
No livro do imaginário a lua é verde de morrer, as cadeiras brancas, e a terra amarela começa a dormir - gosto de poetas obscuros.
Não há poetas obscuros.
Se alguém diz - esta atenção é minha - não é um poeta obscuro?, e se diz - esta não é a minha atenção - não é um poeta claro?
Não.
É preciso encontrar as chaves - às vezes é fácil, às vezes é difícil.
Não.
Cada imagem é a chave de outra imagem e e elas abrem-se umas às outras, as imagens.
Não.
Tudo são chaves para abrir tudo.
Não.
A chave entra na fechadura, a porta abre-se sobre uma nova porta.
Não.
Portas sobre portas até que a porta final abra sobre a luz que atravessa o espaço aberto de todas as portas.
Não.
Os poetas são metafísicos.
Não.
A metafísica é uma distância de onde os poetas vêem, em perspectiva, a realidade.
Não.
Não há realidade?
Não, não há realidade - todos os poetas são claros a esse respeito.
Se eles dizem - atenção - cria-se a realidade da atenção.
Se eles dizem - atenção - anulam a atenção, criam um espaço vazio.
A imagem não é uma realidade?
O que os poetas provam é que é preciso uma imagem para revelar que a realidade não existe.
No livro do imaginário a lua é verde de morrer, as cadeiras brancas, e a terra amarela começa a dormir - gosto de poetas claros.
Não, ainda não.
Herberto Hélder " Photomaton & Vox" Assírio & Alvim 4ªed. 2006
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