terça-feira, 28 de setembro de 2010
discursos de sobrevivência
Paul Klee
anunciado o fim de Estio
a vindima e a recolha apressada de últimos frutos.
alguns dos figos caíram. espalhados.
tal o estendido calor
que não faz qualquer sentido acreditar o calendário
o encurtar dos dias, a movimentação tardia
de um Sol à procura da noite
cedo, a cedência das estrelas, o ocaso –
quase no fim de Setembro – o Outono
o lobo seco – este ano sendo
um cordeiro de pés de lã, lento
e paciente, de passos pequenos
um relógio manual
em atrasos
um sino adormecido
visível, na longitude longa de superfícies.
e a planície fingida como um trapo onde se notam vincos
a necessidade abrupta de dificuldades, sílicas
uma chuva de quartzos
e na mesma linha em contraste
além, do lado esquerdo
os espaços onde ainda as cores
breves, no nascimento de amarelos
e azuis , misturados, amores perfeitos, águas
cataratas a quebrar fronteiras, tensões
falíveis, de corpo e esconderijos emotivos –
o fim do solstício unido de enigmas
indeterminado no suposto possível
na surpreendente e particular ânsia
de absoluta revolta de espírito –
e não conseguir avançar. ver . ver o horizonte
a segurar num cordame de sisal, o veleiro, no mar alto
onde as gaivotas em discursos de sobrevivência
porque os ventos, os sopros e os silêncios
permanecem como os climas, suspensos
de fios de nylon, alinhavados de alterações
intemperados, excessivos e plenos
de fermentos
apontando conforme as ordens excelsas
azuis e aéreas
um porto de abrigo
ou as fragas, nas ondas do tumulto, carregadas de lapas
e altos murmúrios nas casas habitadas dos búzios;
perigos, marítimos, perigos
a gravidade escorregadia das algas
o naufrágio –
ignorar a desordem não é construir a paz interior e luminosa.
nas artérias cheias há ausências, ausências mudas, surdas
e o corpo é um planador de folhas secas
rasgando a atmosfera circundante de ruídos
em queda que ensombra as gravilhas –
quem procura a memória fácil quebra o aro encantado.
cego e sem recompensa
arrasta a âncora e mantêm a distância.
está atento, suporta a dor, aceita a queimadura
abre o peito e o flanco para quando
em fragmentos, a hora aberta e as romãs
não te descuides na rigidez –
Subscrever:
Mensagens (Atom)