Nada te pergunto
tudo me dizes
erguendo fantasmas brancos
lívidos em sons guturais...
e o silêncio indiferente
dentro.
A meu lado
ramos fustigados de tempestades
acima das folhas crepitantes
crateras de dor
no eu impotente.
Nada do que sei
quero por companhia.
Onde está a concha
que afasta o grito
devolve as asas
o dia azul?
Qual o oceano longe
desconhecido
a Nova Atlântida?
Sinto-me ilha submergida
bóia bamboleante de maré alta
revoltosa que aparta e destrói;
impulsão dos sentidos.
Aguardo o dia
em que o que sei
será o que dizes
e nesse dia
não serei mais o eu
apenas o ponto final
sem intervalos exageros
interjeição...
cingido a meio
entre o que fica
e o que ...
não sei-
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
Um texto poético
Resolvi publicar um texto de um livro de Jiménez, autor espanhol do principio do século XX , com um nome sugestivo "Platero e eu". Convém desde já dizer que o Platero era um jumento que sempre acompanhava o escritor nos seus passeios e interrogações na Natureza. O livro tem um autor e o seu auditor (Platero) e uma sequência de pequenos textos poéticos dos quais aqui vos deixo um.
Última sesta
Que triste beleza, amarela e descolorida, a do sol da tarde, quando acordo debaixo da figueira!
Uma brisa seca, embalsamada de esteva derretida, acaricia-me o despertar suado. As grandes folhas da branda velha árvore, mexendo-se de leve, enlutam-me e deslumbram-me. Parece que me embalam suavemente num berço que fosse do sol à sombra, da sombra ao sol.
Lá longe, na aldeia deserta, os sinos das três tocam as trindades, atrás das vagas cristalinas do ar. Ao ouvi-las Platero, que me tinha roubado uma grande melancia de doce gelo escarlate, em pé, imóvel, olha para mim com os seus enormes olhos vacilantes, onde anda uma pegajosa mosca verde.
Perante os seus olhos cansados, os meus olhos cansam-se outra vez...Volta a brisa, como a uma borboleta que quisesse voar e a que, subitamente, se dobrassem as asas...
as asas... as minhas pálpebras frouxas, que, rapidamente, se fecharam...
Juan Jiménez "Platero e eu"
Última sesta
Que triste beleza, amarela e descolorida, a do sol da tarde, quando acordo debaixo da figueira!
Uma brisa seca, embalsamada de esteva derretida, acaricia-me o despertar suado. As grandes folhas da branda velha árvore, mexendo-se de leve, enlutam-me e deslumbram-me. Parece que me embalam suavemente num berço que fosse do sol à sombra, da sombra ao sol.
Lá longe, na aldeia deserta, os sinos das três tocam as trindades, atrás das vagas cristalinas do ar. Ao ouvi-las Platero, que me tinha roubado uma grande melancia de doce gelo escarlate, em pé, imóvel, olha para mim com os seus enormes olhos vacilantes, onde anda uma pegajosa mosca verde.
Perante os seus olhos cansados, os meus olhos cansam-se outra vez...Volta a brisa, como a uma borboleta que quisesse voar e a que, subitamente, se dobrassem as asas...
as asas... as minhas pálpebras frouxas, que, rapidamente, se fecharam...
Juan Jiménez "Platero e eu"
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