quarta-feira, 28 de agosto de 2013

o mar como a poesia

imagem daqui


sabes,
acordei com o som de ondas enroladas num colar branco
e um aroma verde de limos e algas,  a maresia –

o mar tem destas coisas, toca-nos pelo olhar e pelo som
pela imensidão
pela linha definida que junta o azul
pelo segredo que se esconde na viagem dos peixes
pela quilha que avança, no movimento dos barcos
 e no voo planado de gaivotas pelo ar –

o mar tem destas coisas, sublima, da terra ao céu
como em Turner
entre o naufrágio e o sublime, ou determina 
o dia seguinte
entre o crepúsculo laranja que despede o dia
 e o silêncio das estrelas que nos olham de cima  –

o mar tem destas coisas, liga
está para além da rotação dos astros
da cultura dos livros
o mar é o espelho de Olimpo mesmo que não exista –

 no descer  das pálpebras, escutam-se os búzios, e imagina-se–

o mar tem destas coisas, como a poesia
uma emergência que não se domina, uma realidade e uma sina –

sabes,
acordei com o ombro quieto e o teu rosto paralelo
mas não despertes, peço-te
queria colocar-te um colar branco de espuma
soletrar-te o mar e entregar-te o brilho  de uma pérola original –
a tua mão é uma concha aberta aos primeiros raios de sol.
permanece -

lá fora, as ondas continuam enroladas –

josé ferreira 27 de agosto 2013