domingo, 3 de maio de 2009

Dia da Mãe - Azul "Celeste"

Tem o nome nascido no céu
o signo sem pecado
deu-me luz quando venci o mar
e agarrado ao fio apareci
choroso do outro lado.

Um dia de Outono
que me apercebo indefinido
sem o pontuar de humores:
raios de sol? gotas em linhas?

A "brasileirinha" diziam quando pequena
nas terras do Côa íngremes e sós
onde volfrâmios eram ouro de montes
e os homens nos vales davam saltos
sem fronteiras na França distante
salvação e aventura de emigrantes.

Ainda menina sem remos nem fama
tocou as margens do Douro
no comboio das fornalhas
em bancos corridos de paus e napas;
impossível esquecer as galinhas carecas
entre redes malas de cartão e cestas
os rodilhos os aventais
na Régua os cântaros de água fresca.

Chegou no abraço de um Porto
abrigo onde o barco acostou
e não mais partiu:
foi aí que eu nasci.

Devo-lhe os versos o som das rimas
as palavras ensaboadas
nas águas do rio.

No início lia contava as histórias da Biblia.
Nos dias de Maio as novenas
os cânticos das músicas de "Maria"
nas terras de Fátima da Cova (Dei)ria
(assim se cantava e eu de mãos juntas
e ar distraído assim ouvia).

Pequeno na altura do cotovelo
ensinou-me as artes do bolo
sem mecanismo de braço firme
nas rodas de um "salazar":
castelos de claras
gemas desmaiadas de doçura
manteigas derretidas
e o nome que guardo na memória
raiados de Carrara "mármore"
"mármore" assim o bolo se chamava.

Talvez se tenha formado no pó das farinhas
alguma névoa e fantasia
um princípio de alma
que acredita
na força das palavras
na poesia.

Enfim que mais dizer
se não que em ela fui um todo
recebendo recebendo recebendo
o consolo o carinho o próprio sono
nos cuidados que só uma mãe sente
como sendo
únicos divinos
voando perigos ouvindo os ventos
amainando as feras dos destinos.

Mãe que tens nome no céu
e és menina do Rio
hoje sempre todos outros
o dia é teu
e vejo-te azul na cor
de uma flor delicada
miosótis
o pequeno ponto amarelo
sabes mãe
esse lugar é o meu.