Doem-me estas horas de silêncio
Em que o nome encoberto das nuvens se expande por dentro
Setas errantes de nada perdidas em introspecções materializadas de sonho
Dói-me a ausência da tua forma em mim
Numa escala de quartas perfeitas tocada em câmara lenta sem perdão
Eram teus os meus dedos de sombra, poente de sentidos despertos e longínquos
Toma este intuito sonorizado de letras e enrola-o no teu ventre
Como um gato expoente de liberdade e independência caseira
Relê-me o tempo nas dobras dos segundos
Um tempo lento sem a tua cor, onde se desdobram sinos vazios e lupas
Porque pára o tempo no sem sentido?
Na nudez mista da carne desnomeada, exausta, gasta de sinapse inúteis
Uma esfera vaidosa encranizada em osso quente
A volúpia do sangue morno em banho Maria
A volta exacta dos espaços de seda dobrados sobre nós
Como a dúvida ou a certeza, presas nuas da verdade
Dói-me a mão da escrita densa e nua, só magma esculpido e terno
Dói-me o céu de tão azul nesta mariposa celeste em mutação
Tempo atrasado que arrasta verbos e colhe sonos
Hora certa para sonhar.