Queria falar-te da minha
Cerejeira florida e dos
Brincos de princesa
Que são o orgulho do meu
Jardim terreal:
- Não sei agora onde colher
Cerejas nem onde fica o meu reino!
Queria falar-te do meu
Diospireiro
Que ilumina o outono
(como a minha infância a árvore de natal)
E acende o bico e o desejo aos melros
- Não sei agora onde colher o
Pôr-do-sol da minha vida!
Queria falar-te do
Sonho e da vida
E dos sabores e aromas
Que ainda habitam esse espaço verde
E grato da minha memória
-Não sei agora onde colher o
Cheiro quente do incenso e fresco do alecrim;
Não sei agora onde colher os sabores
(Do limão e do kiwi
Do tamarilho e do maracujá
Do pêssego e da laranja
Da ameixa e do alperce
Da pêra da nêspera da maçã)
- Não sei agora onde fica o éden da minha vida!
Queria falar-te da minha Palmeira magistral
Vigiando maternal as Buganvílias ali entrelaçadas
De cores serenas e aleluias primaveris
E lá mais adiante
A flor e a folha e o cheiro
Da lúcia-lima e do loureiro
- Não sei agora onde colher
O verde sadio do olhar e a coroa
Da vitória e do saber!
[ E estava lá a nossa vida toda e até
Os nossos corpos nus
No coração de Agosto.]
Ah! O meu paraíso perdido! Outra vez!
José Almeida da Silva
In " Amanheceste em mim pelo poente"
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
O Cigarro e o meu Ser
Queima-te cigarro frágil, some-te em fumo,
Para sempre esvai-te em cinza,
Que no chão será lançada,
E indiferente calcada
Pelo magro valor ou nulo,
Que a natureza lhe demarcou.
Olho-te enternecido, amargurado me havendo,
Pelo que em mim hoje sucede...
Vejo-te seres esmagado
Pelo fogo reles, irónico,
Que te suprime, indiferente!
Não olha a quem fere, não se importuna!
E tu deixas-te derrubar,
Concedes que te destruam, sempre vencido...
Atormento-me só de ver que não combates.
E sei-o agora, sim,
Tu não te irritas!...
...E nova porção de cinza,
Pacata, ingénua, calada,
Se edifica insignificante;
Breve sei será desprezada
E no chão imóvel e insensível
Sei que será esmagada e a nada concluída
Pelo curso do teu destino!...
Lanço-te os meus olhos, ó cinza,
Que ao lado de meus pés te achas;
...Mas eis que um feixe de vento,
Buliçoso, breve e intenso,
Manso sopra , cauteloso, e te arrasta...
É o teu destino simples que te aborda!...
Cigarro agora eu reparo:
De ti resta um filtro ainda
Que a chama não consumiu...
...Perscruto-o com singeleza,
Sincero sou , te confesso;
...E eis que nele admiro uma tão rara firmeza!
Fixo-me nele então, mais de perto,
Observo-o sereno, independente;
Súbito, de minha mente fria e abandonada,
Algo se aproximou;
Se me afigurou conforto amigo,
Restabelecedor...
.............................................................
Alegro-me, pois me ensinaste
Que algo em nós fica retido, indefeso sim,
Mas como que rocha dura
Que as vagas furiosas enfrenta,
E que se mantém e não lamenta!!
Algo notei que persiste
E me alenta a existência;
Algo incólume
Que a crítica alheia não feriu,
...Enfim, a pégada do meu Ser...
E assim já despertado,
Seguirei meus passos firmes,
Sabedor que não me engano,
E não permitirei jamais que te abandone,
Amor meu diferente, a mim predestinado!
(Antonio Pinto Oliveira, 1968 - Luanda;
in " Eu e o Silêncio ", 1994/2008 - Edições Ecopy).
Para sempre esvai-te em cinza,
Que no chão será lançada,
E indiferente calcada
Pelo magro valor ou nulo,
Que a natureza lhe demarcou.
Olho-te enternecido, amargurado me havendo,
Pelo que em mim hoje sucede...
Vejo-te seres esmagado
Pelo fogo reles, irónico,
Que te suprime, indiferente!
Não olha a quem fere, não se importuna!
E tu deixas-te derrubar,
Concedes que te destruam, sempre vencido...
Atormento-me só de ver que não combates.
E sei-o agora, sim,
Tu não te irritas!...
...E nova porção de cinza,
Pacata, ingénua, calada,
Se edifica insignificante;
Breve sei será desprezada
E no chão imóvel e insensível
Sei que será esmagada e a nada concluída
Pelo curso do teu destino!...
Lanço-te os meus olhos, ó cinza,
Que ao lado de meus pés te achas;
...Mas eis que um feixe de vento,
Buliçoso, breve e intenso,
Manso sopra , cauteloso, e te arrasta...
É o teu destino simples que te aborda!...
Cigarro agora eu reparo:
De ti resta um filtro ainda
Que a chama não consumiu...
...Perscruto-o com singeleza,
Sincero sou , te confesso;
...E eis que nele admiro uma tão rara firmeza!
Fixo-me nele então, mais de perto,
Observo-o sereno, independente;
Súbito, de minha mente fria e abandonada,
Algo se aproximou;
Se me afigurou conforto amigo,
Restabelecedor...
.............................................................
Alegro-me, pois me ensinaste
Que algo em nós fica retido, indefeso sim,
Mas como que rocha dura
Que as vagas furiosas enfrenta,
E que se mantém e não lamenta!!
Algo notei que persiste
E me alenta a existência;
Algo incólume
Que a crítica alheia não feriu,
...Enfim, a pégada do meu Ser...
E assim já despertado,
Seguirei meus passos firmes,
Sabedor que não me engano,
E não permitirei jamais que te abandone,
Amor meu diferente, a mim predestinado!
(Antonio Pinto Oliveira, 1968 - Luanda;
in " Eu e o Silêncio ", 1994/2008 - Edições Ecopy).
INTIMIDADE DO AMOR
Minhas mãos cheiram a amor,
Cheiros de rosas, cravos e suor,
Loucuras fazemos até à saciedade,
Bendita sejas mulher-felicidade!
Dorme profundamente meu anjo,
Enquanto contemplo teu magro rosto,
Música ainda oiço de banjo,
Enquanto aos teus lábios os meus encosto!
Estaria assim pela vida inteira,
Disfrutando tua bela anatomia,
Acariciando teu angélico semblante.
De cada vez é vez primeira,
Amar-te parece uma eterna fobia,
Desejo, loucura ardente, ânsia constante!
(Antonio Luíz , in "VIDA: Paixão e tormento", 2008
Edições ECOPY )
Cheiros de rosas, cravos e suor,
Loucuras fazemos até à saciedade,
Bendita sejas mulher-felicidade!
Dorme profundamente meu anjo,
Enquanto contemplo teu magro rosto,
Música ainda oiço de banjo,
Enquanto aos teus lábios os meus encosto!
Estaria assim pela vida inteira,
Disfrutando tua bela anatomia,
Acariciando teu angélico semblante.
De cada vez é vez primeira,
Amar-te parece uma eterna fobia,
Desejo, loucura ardente, ânsia constante!
(Antonio Luíz , in "VIDA: Paixão e tormento", 2008
Edições ECOPY )
ARFAR POR AMOR
Termino de novo a sublime batalha,
"nobre e selvagem" deste amor,
curvo-me perante a sua concretização
natural e irrecusável;
...em seu âmago, em seu último reduto,
a explosão vulcânica de febris emoções,
com sua expressão física de um dilúvio,
torrencial e quente,
que me deixam a arfar por longos e longos minutos!...
Assim é meu anseio; assim eu quero!
...É o prolongar dos afectos,
e de todo aquele acto de fascínio e insensatez,
mas também tão inquietante e tão doce...
Daqui a segundos só terei "memória recente" dos mesmos,
e já não arfarei quase em dispneia;
terei saudades de tanta ternura,
e da nossa voraz alquimia...
Amanhã já estarei tão longe
da grande amálgama destes pensamentos,
porque a vida rotineira de cansaços nos afogará de novo
em mares de outras tempestades,
tudo sendo então vertido no Livro
empoeirado das memórias,
até que tenhamos outra oportunidade
de voltar a arfar por amor,
na continuidade do resplandecer desta abrupta paixão,
que tanto nos toca e gentilmente domina!
( António Luíz ; in " VIDA: Paixão e tormento", 2008 -
Edições ECOPY ).
"nobre e selvagem" deste amor,
curvo-me perante a sua concretização
natural e irrecusável;
...em seu âmago, em seu último reduto,
a explosão vulcânica de febris emoções,
com sua expressão física de um dilúvio,
torrencial e quente,
que me deixam a arfar por longos e longos minutos!...
Assim é meu anseio; assim eu quero!
...É o prolongar dos afectos,
e de todo aquele acto de fascínio e insensatez,
mas também tão inquietante e tão doce...
Daqui a segundos só terei "memória recente" dos mesmos,
e já não arfarei quase em dispneia;
terei saudades de tanta ternura,
e da nossa voraz alquimia...
Amanhã já estarei tão longe
da grande amálgama destes pensamentos,
porque a vida rotineira de cansaços nos afogará de novo
em mares de outras tempestades,
tudo sendo então vertido no Livro
empoeirado das memórias,
até que tenhamos outra oportunidade
de voltar a arfar por amor,
na continuidade do resplandecer desta abrupta paixão,
que tanto nos toca e gentilmente domina!
( António Luíz ; in " VIDA: Paixão e tormento", 2008 -
Edições ECOPY ).
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