domingo, 8 de abril de 2012
a árvore tranquila
Magritte
ao subir a serra pela tarde adversa
não pude olhar o teu rosto na forma habitual;
o sorriso e o mar ;
dedico-te a cor lilás das urzes que enfeitavam o caminho –
na frente do vidro corriam as plantas baixas, as rochas calvas
os pinheiros altos –
na frente do vidro duas histórias, palavras na cabeça e a estrada
razões e falhas, o passado que existe e o futuro que se desenha;
o sonho é uma realidade escondida –
a estrada é lenta, a natureza prende os sentidos
era preciso parar esta lata mecânica e encostar as costas numa rocha
sujar as mãos na terra, colher uma alfazema, escutar o melro e o corvo
que se sentam nas pedras e oscilam as cabeças, pensar melhor as palavras
a forma como as digo, a forma como escondo o grito –
hoje falta-me o tempo para tecer as sedas
não porque não queira, sim pelas pedras, pelo vidro, pelo caminho –
entrego-te o sussurro nocturno das flores
o seu aroma de meses preferidos, um maio colorido
o primeiro mês das praias quando não há barracas às listas
e as marés silenciosas invadem de mãos juntas o areal vazio –
impossível negar a lua, o seu nascimento branco
a circunstância infinita da rotação do mundo
o insustentável no imprevisível humano, o súbito
a seta aguda –
pela noite das estrelas
desejo-te o bom relâmpago, um sono sem temor
o reconforto e o sossego
na mesma forma como me sinto
uma árvore tranquila com uma lua dentro -
Subscrever:
Mensagens (Atom)