Sangria
E um dia
sol de quente
Na rambla
de tanta
gente
Tapas
olhos para
olhar de frente
a morte que
se talha
rente
Tantos
ossos coluna
e pedra na sombra
que se sagra
à frente
Nascem
os bichos
só pedra e sangue
no mastro
que se ergue
urgente
Cresce
família na
cor viva e pedra
que é osso
de um som
emergente
Soltos
Os pássaros de
toda a terra
ressoam
na rambla
da mente
ressoam
na rambla
da mente
ressoam
na rambla
da mente
terça-feira, 5 de maio de 2009
de profundis amamus
(Pintura de Cesariny)
Ontem
às onze
fumaste
um cigarro
encontrei-te
sentado
ficámos para perder
todos os teus eléctricos
os meus
estavam perdidos
por natureza própria
Andámos dez quilómetros
a pé
ninguém nos viu passar
excepto
claro
os porteiros
é da natureza das coisas
ser-se visto
pelos porteiros
Olha
como só tu sabes olhar
a rua os costumes
O público
o vinco das tuas calças
está cheio de frio
e há quatro mil pessoas interessadas
nisso
Não faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso
Mário Cesariny - Autografia e outros poemas de pena capital - Assírio & Alvim
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