segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O silêncio e as palavras não ditas


Amadeu de Sousa Cardoso "Entrada" 1917


O silêncio na presença é dor.
As mãos pousam no regaço ou brincam
nos fios dos dedos, no entrelaço de uma folha
de cabelo, na dobra de ramos cruzados,nos joelhos.
Invisível de futuro nas asas de um ar fresco ou quente
O silêncio guarda as palavras, espera o dique
o soltar das águas, a imparável ou lenta torrente.
O lugar é de íris e breves momentos. Adivinhar,
não ler tudo no descer de pálpebras, húmidas.
Não saber o quanto no brilho reflectido e longuílineo.
Por vezes o olhar resguarda o chão
descansa a intensidade e pausa as chamas, o fogo, a lava
e pára. Pára naquele sinal – a dúvida imaterial. O medo.
O medo é mau, é fraco, descai.
A falta de um clima impede o passo natural. Sofre.
Uma planície afunda, dissolve, destrói
adensa a montanha, prolonga e inclina.

No silêncio se escrevem versos na presença.
Folhas de seda interditas, que não são ditas.
Sentidas.
Melhor deixá-las ir, não dar guarida.
Nos dias de inverno, de flocos a neve gela
corta, fere, esfria, explode a alma de tão fria.
Na dúvida do que podia ter sido, no medo
na ausência, causa dano irreversível.