Suspenso do teu nome
Suspenso do teu nome
Que indelével me retine
Na lembrança sinto
O veludo das tuas mãos
Serenando-me a insónia
Do medo que em criança
Chamava por ti.
Vinhas e então vinha o sono
Para exorcizar o medo
E tranquilizar a noite.
O sonho fazia o resto,
Sorria-me como tu fazias
Com o veludo das tuas mãos
E dos teus lábios pousando
Um beijo na minha testa.
É música o teu nome
Ecoando em mim a harmonia
Desde menino, agora vinda
Da eternidade que te dou.
O medo hoje é a tua ausência
Anoitecendo-me o coração.
(2010.04.21)
José Almeida da Silva
José Almeida da Silva
Cicuta Pura
Do "Tríptico emocional" e depois da última sessão
decidi só publicar o que recolheu
a melhor aceitação dos meus colegas (quanto ao pastel
que pintei para a apresentação tenho que estudar
um pouco mais de informática para o conseguir
publicar):
Cicuta Pura
Por vezes visto-me de toga branca, acusado
na Assembleia grega de Sócrates.
Do lado de lá nem Platão nem Críton. Só ninguém
e uma chuva de setas de cicuta lançada de canas secas.
Cuido da vista que não se perca, do lado esquerdo
do peito que o veneno não atinja.
Se a chuva cessa sempre palpita um lado.
No meio dos dedos vejo rostos, esgares e
sendo imensa e funda, apago a dor
esperando um, apenas um dia um
mais dia um ... alguém!
decidi só publicar o que recolheu
a melhor aceitação dos meus colegas (quanto ao pastel
que pintei para a apresentação tenho que estudar
um pouco mais de informática para o conseguir
publicar):
Cicuta Pura
Por vezes visto-me de toga branca, acusado
na Assembleia grega de Sócrates.
Do lado de lá nem Platão nem Críton. Só ninguém
e uma chuva de setas de cicuta lançada de canas secas.
Cuido da vista que não se perca, do lado esquerdo
do peito que o veneno não atinja.
Se a chuva cessa sempre palpita um lado.
No meio dos dedos vejo rostos, esgares e
sendo imensa e funda, apago a dor
esperando um, apenas um dia um
mais dia um ... alguém!
Devolve-me os dedos
-----------------------------------------A medo vivo, a medo escrevo e falo
-----------------------------------------António Ferreira (1528-1569)
Devolve-me os dedos
que ficaram dormentes
nas fendas da lua
quando as ruas derretiam
e o vento vermelho voava
deixando as pessoas nuas
quando a vertigem trepava
e a virgem voraz rasgava
a garganta que a habitava
Devolve-me o linho branco
que cobria os meus pruridos
curvas e contra costas
quando o aço do teu espaço
se sumia em arrepio
ao cheiro do meu grito
quando os olhos se apertavam
e visões de videntes vinham
em inventadas ausências
Devolve-me o certo de mim
as linhas que me desenham
um ventre que se sustente
e medos que me sobrem
ou ancas que não se dobrem
leva-os no mar para longe
onde não possam dançar
falar ou viver
no instante em que tudo -
-----------------------------------------António Ferreira (1528-1569)
Devolve-me os dedos
que ficaram dormentes
nas fendas da lua
quando as ruas derretiam
e o vento vermelho voava
deixando as pessoas nuas
quando a vertigem trepava
e a virgem voraz rasgava
a garganta que a habitava
Devolve-me o linho branco
que cobria os meus pruridos
curvas e contra costas
quando o aço do teu espaço
se sumia em arrepio
ao cheiro do meu grito
quando os olhos se apertavam
e visões de videntes vinham
em inventadas ausências
Devolve-me o certo de mim
as linhas que me desenham
um ventre que se sustente
e medos que me sobrem
ou ancas que não se dobrem
leva-os no mar para longe
onde não possam dançar
falar ou viver
no instante em que tudo -
O Segredo
A medo vivo, a medo escrevo e falo
António Ferreira (1528-1569)
António Ferreira (1528-1569)
Dizer, numa árvore deixar
Ao ouvido um segredo
Oco tronco tranca o medo
Do indizível
Segredo
Sussurrar o sentir
Num velho vulto vazio
Lavar o peso do peito
Nesse rio
Caixa-forte dos afectos
Meu amor depositado
O segredo que no peito
É mal guardado
Vontade
“a medo vivo, a medo escrevo e falo”
António Ferreira, 1528-1569
António Ferreira, 1528-1569
E se é
verdade o que dizem
sobre o amor não ser eterno.
É devolver o que se sente
ou se pensa que sente,
já sem certeza de nada,
e guardar apenas a memória
de um mundo enganado de
sobre o amor não ser eterno.
É devolver o que se sente
ou se pensa que sente,
já sem certeza de nada,
e guardar apenas a memória
de um mundo enganado de
perfeições inventadas.
E aquele a quem se ama,
E aquele a quem se ama,
composição de
conceitos
próprios,
torna-se entidade livre
de à força ser
imagem e significado
de quem
precisa de o amar.
E se é
verdade que o amor não é eterno.
Pouco importa,
que hei-de
manter as perfeições inventadas
por teimosia de
vontade,
que não escondo nem calo.
Mas entretanto,
a medo escrevo, a medo vivo e falo.
que não escondo nem calo.
Mas entretanto,
a medo escrevo, a medo vivo e falo.
Raquel Patriarca
dezasseis.dezembro.doismileoito
Adeus
Partiu o comboio
Vi-o dançar no trilho
Despenteado
As árvores ao lado
Caindo as folhas
Como em mim
O comboio desapareceu
E as árvores ali despidas
Como eu
Em pé
Eu na estação
E a solidão
E eu nua de ti
Comboios partem, comboios vão
E o sentimento cresce lentamente
Um resto um sedimento
Comboios chegam
E eu na estação
O vento varre os medos dos outros
Eu sou transparente
Fico ali
Como tronco de árvore
Despida de ti
A Primavera há de vestir
As árvores de todas as flores
Mas eu sem nada
Ali na estação
Sei que há comboios que vêm e que vão
Mas é certa esta dor
E eu já não te visto, nem te tenho visto
Nem Outono, nem Inverno, nem Verão
Visto sempre e só a solidão
E a longa certeza dos dias compridos
Vi-o dançar no trilho
Despenteado
As árvores ao lado
Caindo as folhas
Como em mim
O comboio desapareceu
E as árvores ali despidas
Como eu
Em pé
Eu na estação
E a solidão
E eu nua de ti
Comboios partem, comboios vão
E o sentimento cresce lentamente
Um resto um sedimento
Comboios chegam
E eu na estação
O vento varre os medos dos outros
Eu sou transparente
Fico ali
Como tronco de árvore
Despida de ti
A Primavera há de vestir
As árvores de todas as flores
Mas eu sem nada
Ali na estação
Sei que há comboios que vêm e que vão
Mas é certa esta dor
E eu já não te visto, nem te tenho visto
Nem Outono, nem Inverno, nem Verão
Visto sempre e só a solidão
E a longa certeza dos dias compridos
Elza Durão
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