terça-feira, 4 de maio de 2010

Dedico o poema a quem já não está!
Domingos Joaquim Do Couto (Sr. Fanfa)
Ana Joaquina Fernandes Moura (D. Aninhas)
António Joaquim Dias (Sr. António)
Tirita
Rastro
Era ilha encantada moravam lá avós
generosos, francos, honrados
Na coroa da escaleira cozinha, os potes
em mesa de escano botavam merenda
do bolso navalha de cabo preto
cortava rebenda de pão dada
Dali a nada corríamos pátio
miguinhas, às tantas gargalhadas
comuns genes e não por isso
de sentir ficámos irmãs
eu eu, ela ela
sonhar e de ninguém
incondicional delas amadas
De noite geada
das mãos gastas troxo chiscava lume
também história contada
magia magia
um dia um avô morreu
mais longe, noutro arrancadas dali
violência violência
pior que luto sobreviver caladas
pequeninas passou tempo
depois, quando morriam
em mim os mortos
o que ficou, dormência
alegres pisamos chão duro
eu eu, ela ela, vizinhas
Via a lágrima
apesar dela, querer além
por outra vez, da liberdade começo
o apurar, lugar onde cabe
o que nem sequer se perderia!
Nota: Poderia ter dito a algumas pessoas,
outras, se valesse a pena,
não se pede permissão para amar.

A batallas de amor, campo de plumas




Apresento-vos - para quem ainda não conhece - um dos poetas mais brilhantes (não só na minha perspectiva) do século XX espanhol, particularmente do chamado grupo de 50: José Manuel Caballero Bonald. Uma voz poética que se fez a si própria e contracorrente, com aquela opacidade crucial que as armas de sedução e os enigmas costumam deter para nos possuir, a nós, incautos leitores, presas pusilânimes dos seus advérbios.
Así espero que lo disfruten!





Ningún vestigio tan inconsolable
como el que deja un cuerpo
entre las sábanas
y más
cuando la lasitud de la memoria
ocupa un espacio mayor
del que razonablemente le corresponde.

Linda el amanecer con la almohada
y algo jadea cerca, acaso un último
estertor adherido
a la carne, la otra vez adversaria
emanación del tedio estacionándose
entre los utensilios de la noche.

Despierta, ya es de día, mira
los restos del naufragio
bruscamente esparcidos
en la vidriosa linde del insomnio.

Sólo es un pacto a veces, una tregua
ungida de sudor, la extenuante
reconstrucción del sitio
donde estuvo asediado el taciturno
material del deseo.

Rastros
hostiles reptan entre un cúmulo
de trofeos y escorias, amortiguan
la inerme acometida de los cuerpos.
A batallas de amor campo de plumas.