domingo, 5 de outubro de 2008

tpc 2



Ar!
percorresse, isoladamente,
leves ossos:
aéreos, ocos, terríveis…

calor! – origem,
excesso
de linhagem.

ar!
primo artigo,
resto próximo.
mais ar!

rio – elo recente, novo
de pele a libertar
aves.
ar!

elefante, penas,
aves, o interior – invadidos!

Ar

Ar, aves terríveis.
Origem interior, resto de linhagem,
Ossos ocos, aéreos, invadidos... ar

Ar, aves próximo.
Artigo primo do elefante,
Excesso, calor novo, libertar elo recente... ar

Ar, aves mais leves.
Percorresse o rio isoladamente,
Penas, pele, penas... ar

catadupa

catadupa
lenta lupa que me entorpece a visão
enredupa
desenluta
desamuta a tua transmutação
desnuda
desnuta
desnupa
catadupa
sem culpa sem culpa sem culpa
desculpa desculpa desculpa
catadupa catalupa catalupa
lupa
luz
clarividência
visão lúcida e clara
chegada.

Liliana

Desenlaça-me a dor

a insensatez do teu desdizer de alma
a forma lenta como me chamas nessa doçura infantil

foge do mundo até te cansares
depois volta e faz as pazes com o rio
com a lenta rotina dos automóveis
com o café do outro lado da rua
com a mesma velha calçada de sempre
a imensidão das horas nos dias cheios de sol
no trabalho pragmático que nos capa os sentidos
na mecanização enganosa da produtividade
embrulhada em presentes com muitos laços
desenlaça-me a dor de te ver partir

Se não te pensasse

Se não te ouvisse não te sentia
Se não te visse já não morria
Não era amor o que me consome
Se não soubesse que tens um nome

Hoje só durmo se não pensar
Se me despeço num abraçar
Da paixão rude que rompe o medo
Desse desejo do teu enredo

Quem me refaz se eu me quebrar?
Quem recompõe o meu olhar?
Quem me repinta se eu apagar
O meu retrato, o meu sonhar?

Se adivinhasse que tudo cai
Se fosse certo que temos fim
Parece fácil acreditarSei afinal que me minto a mim

Não é certa a minha dor

Não é certa a minha dor
É um incerto sentir sem medo
Perdida entre o desejo e a bravura
Entre a coragem e a brandura da tua fuga

Já não sei mais a tua cor
A máscara lenta que pões e tiras
Como um fardo de dor insolente e fria
Como uma alma vazia que descarregas em sentir
Onde estão as tuas mãos que ainda agora sentia?
O teu calor estranho se desfez em ar
Teus beijos etéreos são vazio em nada
Puro vácuo de abstracção

O meu ar sem o teu ar
O meu nome sem o teu nome
A pura e delicada incerteza da existência
Perdida num descorrer de sentido caótico
Do acaso em que alguns acreditam sem pensar
Da fé que alguns apregoam sem dizer
Do nada que carregamos às costas
Nos segundos de pausa do relógio do tempo.

Amarra a minha alma à tua
Grita num repente que queres viver rápido
Que agarras tudo num segundo para perder a cor da lógica
E agarrar os números soltos da insensatez
Com um travo de doçura e loucura
Com um esgar de dor e saudade
Sem lágrimas nem arrependimento
Sem fome nem sustento
Só dias de riso, música e dança
Em que o coração não se cansa de bater
nem se ouve na cadência louca da arritmia
Desde aquele dia em que te perdi,
na desafogada confusão da mente indecisa
A teia de pensamentos que nos prende ao chão e nos arranca do céu
O breu de cada perda
A calma aceitação da realidade num entardecer
Ao ritmo enluarado do asfalto que se perde nas ruelas
Das curvas soltas do teu riso
Da dança incauta do teu beijo
Um sopro aberto num sorriso
Em que me vês e eu te vejo.

Fiz outro soneto

Soubesse o tempo desfazer as horas
Ou a alegria descrever o riso
Talvez pudesse eu nas minhas demoras
Entender as linhas do teu sorriso

Só eu sei de cor a minha incerteza
Velha de saber que é certo o perder
A cansada máscara de dureza
Colada ao meu rosto vê sem te ver

Desfaçam os nós que consomem ar
Reinventem mil vezes o amor
Abracem-me só para eu não pensar

Que conheço já o abraço de cor
A vida ressurge em cada acordar
E pudesse aí o tempo parar
Amanheceste em mim pelo poente
Um fim de tarde azul e sorridente
Rosa e jasmim sem tempo era novembro
O caminho sorria-me por dentro
Rumei com os teus passos no meu peito
Amor e riso de silêncio feito.

Maio chegou cresceu fez-se gigante
A flor desabrochou e foi ternura
Roxos os lírios belos girassóis
Infinitos os sonhos terna amante
Abriram mares de luz em terra pura.

Da vida gesto abraço beijo mosto
Aurora boreal e dom de agosto.

Colhemos horizontes céus fagueiros
O mar veio oferecer-nos loira areia
Sempre que os nossos olhos se tocaram
Tendo por fundo apenas o luar
A vida e o futuro a conquistar.

E as searas sorriram sóis e luas

Sentimentos jardins loiras espigas
Infinitos efémeros nuvens nuas
Ligando estrelas girassóis e lírios.
Vesperal é o canto do amor
Amanhecido em nós e feito flor.

José Almeida da Silva
In "Amanheceste em mim pelo poente"

Ar do rio

Origem ...
Ossos ocos, aéreos, invadidos
Penas terríveis!
Aves ... ar ... calor...
Ar do rio
Percorresse
O interior, primo, próximo
Isoladamente ...
Elo recente, novo artigo
Ar
Libertar aves, linhagem, penas ...
Mais leves!
Resto de pele
Elefante ... ar ... excesso!

Maria Celeste Carvalho
( Que Deus me perdoe por ousar publicar este "elefante" estas "aves" e
estas "penas" ao lado de Pessoa e de Cesário!)

De tarde

Naquele pic-nic de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela,

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!

Cesário Verde

trabalho de casa 2

Terríveis - o elefante -
no ar, as aves com excesso de calor
Percorresse o interior do rio,
dos ossos -
Artigo recente
um primo - libertar uma linhagem recente, novo elo
Origem de um novo excesso
isoladamente invadidos - O elo da pele...



Nuno Brito

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fernando Pessoa ( Ortónimo)
("o fingimento poético")

Osteoporose


I
penas terríveis,
ossos leves e ocos
invadidos da origem
num elo recente.
excesso de ar,
mais próximo...
interior.
ar e calor,
isoladamente.

II
novo ar percorresse
o primo rio
os ossos, a pele, o resto
das aéreas penas libertar.
artigo de elefante,
em linhagem de ar.


Raquel Patriarca

primeiro T.P.C em atraso



mil anos

ultimos dias e restos

baleias esculpidas

feitas de marfim

cenas, desenhos de caçadas

é um livro aberto

láminas partidas

como marcação de imagem

artefacto