O tempo perguntou ao vento
que tempo faz amanhã.
O vento respondeu ao tempo
que o vento tem tão mau tempo
quanto o tempo de amanhã.
E as manhãs não eram minhas,
e tu não ias
e vinhas
e fugias pela manhã.
Adeus aos travos de vinhas
e conversas de hortelã.
Que tempo fazia hoje
Se não houvesse amanhã?
Que lógicas de distâncias,
de raios e circunstâncias
que fugiram da sertã?
Eu cozia a ventos Este
mas tu ias
e esqueceste
e afinal era amanhã.
Ou então talvez mais dias,
não há tempo, que manias!
E no entanto,
chovias.
E fugias-me aos temperos,
e mal dos meus desesperos,
que uns segundos de bacias
eu sentindo que te ias
choviam gotas mais frias
do que estava receita.
Um bom sorvete de chuvas sempre curou as manias.
Uns tique-taques mais quentes
e uns pinguinhos de avarias
e o tempo nunca foi nada
que não tivesse mais dias.
Hoje não está nevoeiro
E eu já sei que não podias.
E ainda assim contei os ventos
e as nortadas que trazias.
E nas ausências,
choveu mais lento
que as horas,
leva-as o vento.
Já não chovias.
O tempo perguntou ao vento
que tempo faz amanhã.
O vento respondeu ao tempo
que o tempo quase que é lento
quando há vento toda a manhã.
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
perguntas-me sobre o tempo
(fotografia retirada da internet de autor desconhecido)
conceito estranho
sequência e réplica que perdura, única
único, de muitas páginas e actualidade
na precisão imediata : mesmo agora
naquele dia, naquela hora –
no salão de chá dos jardins de Serralves
um sopro traz a Rotunda
uma aragem traz o Palácio
um Natal a cumplicidade de uma rua de baixa
uma prenda de artesanato;
um pássaro preso de mola
sobe de forma manual
desce em cadência automática
e aponta: tira, fica, rapa e põe
o pinhão da pinha do pinheiro de uma área protegida
junto ao reboliço do mar onde areia em movimento
e a cápsula de dunas, em socalcos redondos e flores de cactos –
a memória é um relógio isócrono que recorre e circula
de espírito presente, um vudu de fumo dentro
que ressuscita no contemporâneo
a antiga semente –
uma Páscoa a oferta de um desejo
uma chave, um apartamento
a pressa de alguns mantimentos numa loja conveniente
duas latas de refrigerante, duas sandes de não me lembro
adams amarela , pastilha elástica, uma barra de chocolate
a prata enrolada numa bola, de quatro em quatro
a inscrição azul da paisagem, um lago na Suiça, a doçura derretida –
um facto : caíram as torres gémeas
depois as múltiplas verdades, de cada um em qualquer lugar
o momento quando os media escrevem no vidro magnético
a fusão majestática, sem remédio, a nuvem de pó
na América um rosto incrédulo
na Arábia o regozijo de uma barba afiada.
por cima de uma cómoda, no quarto
as imagens como cartas de um baralho
um jogo de pares, ouros e copas, paus e espadas –
os minutos, as horas, os anos
não possuem o dom da transparência
há enseadas fora de tempo –
e silêncios escondidos numa praia
mãos de gaivotas em roupas de inverno
botas descalças, gotas salgadas, um mar
a lisura inquieta e húmida após a fuga das ondas
o horizonte nos espelhos de mercúrio
e em cada gota de sangue, o tempo
o tempo do pêndulo, alinhado no equilíbrio
de uma dança, uma canção de búzio:
presente presente
passado passado
futuro futuro
único, inédito, inamovível –
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