domingo, 27 de maio de 2012



de entrada a uma casa pequena ao sol
o estreito movimento de olhos  
o virar da face como remo 
uma casa que é barco por dentro
e arrefece na suspensão de uma festa no cabelo 
sem prestar atenção ao que se acende e se apaga em cada ilha 
ao movimento dos barcos 
quando se despedem dos olhos  
a caminho do espaço comum 
aberto devagar entre as sobrancelhas dos bichos
milímetros paralelos de luz
e cada um para o outro, uma criança -
tem que se falar de luz no sublime cruzar dos olhos dos bichos
não através dos olhos dos mortos nem do alimento do espectro dos livros
sigo com os barcos que fazem desaparecer multidões 
a acenar por dentro dos olhos 
ouve-se um rumor lúcido de um motor suave 
mais ou menos o que há de bom no sol
talvez esteja a chegar
o calor é actualizado a cada instante 
e já não é o calor do sol 
de luz, de avisos
oh meu capitão 
há barcos que vão e vêm vazios


um trompete dança-me agora a medo
sopros abertos por dentro
erguem-me os braços e bailam para longe
é exacta a saudade entre os meus braços 
e as pernas calçadas de margens sem mim
gosto de paisagens
mas entre as minhas pernas e o horizonte
sempre houve danças que não entendo
prefiro a superfície da música 
sem direcção, um gesto em vez de um passo,
o movimento das pernas não pode escrever-te num quarto escuro, 
só mãos a abrir um corpo 
sem pernas o amor é de braços longos capazes de calar a linguagem das árvores
quando já só existe um vento fino ao piano,
os braços não caem 
e um movimento de alegria tem que ondular pelo corpo acima
seguro, quando rodas
os teus braços levantam um pólen tão ordenado como o das abelhas
que recolho nos meus 
e se os vires desvanecer em direcção pouco certa
nesse instante diz-me adeus, como se só as pernas me tivessem partido,
tem cuidado meu amor com a inveja que as palavras têm dos braços
um gesto ouve-se menos que um passo
e o nosso abraço roda sem atrito
vês, como se ergue ligeiramente  
e vai dispersando a terra que lhe cai em cima
os teus braços não são teus 
são duas rezas minhas