terça-feira, 6 de setembro de 2011
a propósito de um aniversário
Viajavas antigamente nos círculos de um vinil
e não o sabia, tanto tempo de intervalo -
As agulhas eram diamantes do tipo best friend
e as palavras eléctricas acendiam chamas de sílex
fragmentando as noites, aguçando os dias;
ironias, os ruídos e silêncios -
Escrevia sem lua porque o quarto não tinha céu
fechado sobre uma clarabóia onde a roupa estendida
e um eco de vizinhos, por baixo e mais acima
mas talvez sonhasse uma janela e as estrelas -
O gira-discos de napa branca rodando rodando
rodando automático de um e de outro lado
repetindo a luz de um sol sem dó, repetindo -
E não sabia decifrar ainda a força do palco, o braço esticado
a febre saindo nas garras de bagas brilhantes
iluminando a testa no suor das melodias -
O disco de capa branca nunca teve a morte em duas pernas
e permanece numa ópera diferente, gritando a plenos pulmões
que se soubermos agarrar as cordas que nos seguram ao chão
podemos encontrar anjos e subir as paredes das nuvens
e ter um sangue vermelho infinito, indefinidamente
como aqueles que se libertam dos cravos nas mãos
e de punhos fechados seguram o tempo -
Quando Freddie escreveu a canção pensou num corpo feminino
uma pele acetinada, um olhar escondido no travo de cabelos
provavelmente na súbita elevação de um sorriso
ou em braços estendidos -
A música, a rainha, the music’s Queen
como e quando e através de qual circunstância
será impossível de determinar mas surge como a semente dos versos
e dos poetas resguardando os segredos e criando, sucessivamente
novos vendavais e indícios de paraísos
arrepios, arrepios -
Como agora escutando o mesmo gira-disco
a mesma agulha sobre os círculos
e o diamante robusto, rodando rodando
e supondo a musa
no seu refúgio de distância
escutando a música -
josé ferreira 6 Setembro 2011
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