segunda-feira, 7 de maio de 2012

Poesia

A poesia está nas árvores nuas
Penduradas nos ramos as estrofes maduras
Em ritmos suaves

Rimas abraçadas ao vento
Voam fora do tempo, sem idade

Os versos novos no ninho
Crescem e cantam baixinho

As raízes, longas inspirações
Trazem memórias, canções

Todo o tronco num embalo se enquadra
Dentro as palavras em seiva
O sol namora e verseja
Nas folhas espalha sua luz

Os poemas estão no ar
Entram no sangue em respirar
Directos ao coração

Poema é hemoglobina enlaçada em fita fina
A beijar a emoção.

O amor

O amor quando se enfeita
Com fitas de beijos e asas
Faz em réplica perfeita
A melhor de todas as casas

Faz-me crer que o sol
Nasce em cada teu olhar
Como um grande girassol
Que me embala ao girar

O amor quando se veste
Com estrelas e maresia
Escreve na minha pele
A lápis a tua poesia

Faz-me crer que a lua
É teu quente colo em manto
Que ilumina a noite escura
Com um reflexo branco.

um poema para minha mãe


                               Pablo Picasso 

os braços nos braços de minha mãe
um grande sorriso
um recuar de muitos anos
quando escrevia uma quadra de palavras bonitas
as mesmas que surgem agora  como asas de ternura
quando  me dizem : meu filho
quando lhe digo: minha mãe -

são palavras de muitos gestos que escrevemos
quando roça as mãos no meu cabelo
e um grande sorriso
não há palavras ditas não é preciso
não há desculpas, nem lamentos, nem mágoas escondidas
uma claridade, uma felicidade completa nos olhos de minha mãe
e sinto-me tão pequeno -

como naquele dia mais antigo:
calções nas pernas finas e um postal de desenhos
uma quadra feita de caligrafia, letra a letra
e rima, sempre uma rima
uma rima que dura muitos anos, sempre, infinita, sempre
na vida de alguns netos e de cinco filhos –

e todos escreviam –


José Ferreira