em Paris a manhã é branca na madrugada de um dia
depois abre o sol –
da janela do quarto dependuras os braços e procuras gatos
nos telhados.
os telhados são cinzentos, e falas nas saudades das telhas;
as telhas laranja, de alma portuguesa, telhas que lembram
aldeias –
em Paris a manhã é branca na madrugada dos sentidos
depois abre o sol –
de olhos nos teus pés descalços, pousados no soalho
reconstituo as curvas do corpo através da sombra;
anos e anos… quantos?... uma matemática longa –
os quartos de hotéis em todas as cidades nunca poderão ser
uma tenda
nunca poderão engolir o coração pela boca, várias vezes
nunca poderão ouvir os grilos nem os pirilampos
nunca poderão voar como as borboletas
nunca poderão escutar a chuva sequencial, em batimentos
nunca poderão assistir, na transparência da lua, ao juntar
das gotas –
os quartos de hotéis são de muita gente, de muitos dias e algumas
semanas
mas a tenda tem uma alma única, autêntica, raízes
prende-se à terra –
na madrugada branca
Paris tem a assinatura dos pintores pelos lugares da
evidência
e a possibilidade de unir os dedos pelo brilho do Sena .
é preciso sair à rua, encontrar o refúgio das sombras
nas escadas de Neptuno.
é preciso lembrar a tenda.
anos e anos…quantos ? … uma matemática longa –