sexta-feira, 20 de julho de 2012

em Paris a manhã é branca




em Paris a manhã é branca na madrugada de um dia
depois abre o sol –
da janela do quarto dependuras os braços e procuras gatos nos telhados.
os telhados são cinzentos, e falas nas saudades das telhas;
as telhas laranja, de alma portuguesa, telhas que lembram aldeias –

em Paris a manhã é branca na madrugada dos sentidos
depois abre o sol –
de olhos nos teus pés descalços, pousados no soalho
reconstituo as curvas do corpo através da sombra;
anos e anos… quantos?... uma matemática longa –

os quartos de hotéis em todas as cidades nunca poderão ser uma tenda
nunca poderão engolir o coração pela boca, várias vezes 
nunca poderão ouvir os grilos nem os pirilampos
nunca poderão voar como as borboletas
nunca poderão escutar a chuva sequencial, em batimentos
nunca poderão assistir, na transparência da lua, ao juntar das gotas –

os quartos de hotéis são de muita gente, de muitos dias e algumas semanas
mas a tenda tem uma alma única, autêntica, raízes
prende-se à terra –

na madrugada branca
Paris tem a assinatura dos pintores pelos lugares da evidência
e a possibilidade de unir os dedos pelo brilho do Sena .
é preciso sair à rua, encontrar o refúgio das sombras
nas escadas de Neptuno.
é preciso lembrar a tenda.

anos e anos…quantos ? … uma matemática longa –

 josé ferreira 20 julho 2012