quarta-feira, 8 de setembro de 2010

AFOGAMENTOS

Como gostaria
de penetrar a densa espuma,
enfrentar ondas traiçoeiras
e insidiosas brumas
desenhando tenebrosos castelos
longe lá longe no mar,
e salvar vultos amistosos,
traze-los a porto seguro,
estável e cúmplice.
... Mas algo me diz
que lá chegaria
e que nenhum amigo
conseguiria salvar!...
...........................................
A amizade esfuma-se
e afunda-se literalmente,
entre os dedos negros de mãos
laxas e escorregadias,
tão exaustas de combater!

( Antonio Luíz, "Poesia pragmática: poemas de Vidas",
a editar em 2010 ( 06-09-2010)

O OLHAR DE SOFIA

Olhas tranquila o infinito,
com um olhar pleno de 6 meses;
olhos lindos
verdes, azuis ou castanhos (?).
Que importa que cor seja
se são tão ternos e doces
cheios de luz e sumptuosidade ?!
Perscrutas subtil o infinito
de olhos esbugalhados
imperturbáveis,
mas que tanto me perturbam
pois não consigo decifrar
ou no mínimo alhear-me
do Teu tão enigmático olhar...

...Sofia, verás a natureza
linda e grandiosa como Teu olhar,
ser acariciada e respeitada
com seus voluptuosos rios,
montanhas e vales verdejantes,
crescendo como Tu
ao sabor de mimosa e silenciosa chuva?

...Sofia, verás o mar sem grude
com seres vivos brincalhões
e não cativeiros de lamas e pestes,
que lhes atraiçoam a vida
e vão matando a descendência
na alegria de seus abrigos?

...Sofia, verás o azul celeste
sem máculas mas ozono suficiente,
sem desenlaces aeronáuticos
e sem tempestades desmedidas,
que Te podem um dia maltratar,
e roubar Teu angelical sorriso
que é já p'ra nós motor vital?

...Sofia, ou verás apenas raios de sol
imaculados, sem penumbras,
banhando nossos sentimentos
e nossos lagos sistémicos,
ou tristes desertos cerebrais,
ávidos de emoções e criatividade?

...Sofia, ou verás revelações de confiança
ou estandartes de novas esperanças
atingindo as Novas Gerações,
que Te irão oferecer um mundo
bem diferente e jovial,
honesto, credível e humano?
....................................................
Ainda não me falas Sofia,
mas creio ser esta "boa alucinação"
que Teu olhar doce e penetrante
tanto saboreia e Te delicia!

Um dia contar-me-às o Teu segredo!...

(Antonio Luíz, in "Poesia pragmática: poemas de Vidas" -
texto poético dedicado a minha neta ( 03-09-2010).

o lugar pálido do grito - Casa Pia


Novos alunos da Casa Pia 1981


pálido lugar cru no ondear ambíguo
de anos e anos indecisos
náusea de danos e vítimas
no palco irreversível

nunca os males justificam os circos
os dentes das feras
os comentários vácuos dos públicos

quanto maior o ruído de nozes ocas
menos se acredita
como foi possível o silêncio
a morte lenta dos dias em milhares
em milhares de crimes na Casa Pia

justiça justiça
se necessário prenda-se a mentira
advogados e juízes
que sofram e permitam o descanso
de um país fraco e frágil
que permitiu a ignomínia

que se ouça por todo o lado
o maior castigo dos culpados
dos que permanecem escondidos
dos Pilatos dos políticos

justiça! justiça!
nunca
nunca ninguém mais cale o grito
justiça! justiça!

invisível




a areia morna e o salitre
a mensagem branca ilegível
sal de brilho
mar largo

indivisível da pele a gota fluida
uma gota duas gotas
e o destino sinuoso que espalha
diluindo
a mensagem invisível