quinta-feira, 21 de julho de 2011
De um lado, o amor intuitivo da carícia
Fotografia de David Dawson no estúdio de Lucian Freud (neto do inventor da psicanálise falecido ontem, 21 de Julho de 2011)
De um lado, o amor intuitivo
da carícia. Do outro,
toda esta vida cheia, esta força que transborda.
De um lado, a madrugada,
que desperta no teu ventre.
Do outro a noite que
através de nós germina
nas plantas, na voz,
na veemência das plantas,
na veemência da voz,
na ternura que contagia o erotismo
com a sua veemência, o seu peso
de gritos e de camélias distintos.
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Caminhei ao longo
de uma praia
de margens irregulares
e de pássaros lisos. Ansiava
que hoje pudesses tocar
nesta rede que palpita,
se abre e se fecha.
Poderás para sempre correr
ao longo desta areia,
debruada, como pedaços de tecido,
insustentável?
Poderás estender-te
a este sol, surpreendida
por esferas de nuvens
e de luz?
Gérard de Cortanze "O Movimento das Coisas" Campo das Letras, 2002
a vertigem dos dedos
Andreas Heumann
inclinado sobre o lado direito, pousou o rosto
nas nervuras abertas das linhas de uma só mão.
adormeceu sem receio dos ciprestes.
o lado esquerdo, liberto, bateu, uma e duas vezes
pulsante, movimentando a velocidade vermelha do sangue
e sonhou como sempre -
era água, era noite, era a forma líquida do sonho, um mar gigante -
vieram ventos ciclónicos e ergueram as gotas criando estátuas no ar
reunindo o concílio branco das espumas, assustadas, no centro do mar -
e vieram os tornados, plenipotentes, cones uivantes
sugando da base ao vértice, as nuvens indefesas do céu -
e ouviu-se a voz mais forte dos deuses, no escurecer dos relâmpagos
escondendo os golfinhos nas grutas mais profundas, junto ao lavagantes
perante a dilatação medonha dos tímpanos, as descargas de luz
e as chuvas que flagelavam -
de repente o silêncio, era ainda a noite, e abriu os olhos claros -
as ondas repetiam marcas na praia e o sal brilhava em reflexos de amianto
os dedos estavam macios, o rosto estava morno, não tinha vincos
era fluido como um barco, e do outro lado
outros dedos
subindo e descendo as margens
na vertigem emaranhada dos cabelos -
José Ferreira 20 Julho 2011
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