quinta-feira, 21 de julho de 2011

a vertigem dos dedos


Andreas Heumann


inclinado sobre o lado direito, pousou o rosto
nas nervuras abertas das linhas de uma só mão.
adormeceu sem receio dos ciprestes.
o lado esquerdo, liberto, bateu, uma e duas vezes
pulsante, movimentando a velocidade vermelha do sangue
e sonhou como sempre -

era água, era noite, era a forma líquida do sonho, um mar gigante -
vieram ventos ciclónicos e ergueram as gotas criando estátuas no ar
reunindo o concílio branco das espumas, assustadas, no centro do mar -
e vieram os tornados, plenipotentes, cones uivantes
sugando da base ao vértice, as nuvens indefesas do céu -
e ouviu-se a voz mais forte dos deuses, no escurecer dos relâmpagos
escondendo os golfinhos nas grutas mais profundas, junto ao lavagantes
perante a dilatação medonha dos tímpanos, as descargas de luz
e as chuvas que flagelavam -

de repente o silêncio, era ainda a noite, e abriu os olhos claros -
as ondas repetiam marcas na praia e o sal brilhava em reflexos de amianto
os dedos estavam macios, o rosto estava morno, não tinha vincos
era fluido como um barco, e do outro lado
outros dedos
subindo e descendo as margens
na vertigem emaranhada dos cabelos -

José Ferreira 20 Julho 2011

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