quarta-feira, 20 de julho de 2011

só uma onda que ri

só uma onda aos ritmos


podia ser água

e a certeza com que se espalha,

o resto

(palavras em poços

que reflectem

circunferências na superfície)

tende a magoar


quando rodas sobre ti

a velocidade não serve de nada

o vento é só teu

os extremos a tua curvatura

e o sopro do poço vem devagar


deixar duas dimensões à solta de não saber

não deslizar pelas lâminas circulares

entre uma e outra ir saltando

sem violino

ao ritmo de ecos


se o cérebro é maior que o mundo

que o segundo não caiba no primeiro

não se cria energia quando tremo

pela rotação de uma palavra


rir contigo

nos teus modos de ondulação

montar um touro azul e entrar pelo poço ao vento

que não se afaste assim a matéria com medo do escuro

(às vezes despeço-me dos bichos

com um dedo que não é mão)


quero dar um beijo a um átomo

sei que se amam quando se rodeiam

deitar-me com um planeta

contra todos os contractos

que me trouxeram a esta escala sem lugar


também tenho medo do escuro

por mim seguia na água

até ao lugar comum

esse espaço inocente

que se abre entre as sobrancelhas dos bichos

onde se come a energia exacta para comer

a boca não sabe a época


mas ouvimos o fundo dos poços

há uma exacta inclinação das variáveis

para lhes espreitar


e ela ri-se com

a rotação de todos os polegares

na inclinação exacta de nos amar

1 comentário:

josé ferreira disse...

Olá Joana

Gostei imenso do poema, "saltando sem violino ao ritmo dos ecos" "não se cria energia quando tremo pela rotação de uma palavra", um poema circular até "às vezes despeço-me dos bichos com um dedo que não é da mão" e que depois se abre "quero dar um beijo a um átomo sei que se amam quando se rodeiam" "deitar-me com um planeta" e que torna a fechar pela pressão dos "contractos que me trouxeram a esta escala sem lugar".
Também gostei muito de "por mim seguia na àgua/ até ao lugar comum/esse espaço inocente"

Abraço