Um céu e nada mais - que só um temos,
como neste sistema: só um sol.
Mas luzes a fingir, dependuradas
em abóbada azul - como de tecto.
E o seu número tal, que deslumbrados
eram os teus olhos, se tas mostrasse,
amor, tão de ribalta azul, como de
circo, e dança então comigo no
trapézio, poema em alto risco,
e um levíssimo toque de mistério.
Pega nas lantejoulas a fingir
de sóis mal descobertos e lança
agora a âncora maior sobre o meu
coração. Que não te assuste o som
desse trovão que ainda agora ouviste,
era de deus a sua voz, ou mito,
era de um anjo por demais caído.
Mas, de verdade: natural fenómeno
a invadir-te as veias e o cérebro,
tão frágil como álcool, tão de
potente e liso como álcool
implodindo do céu e das estrelas,
imensas a fingir e penduradas
sobre abóbada azul. Se te mostrasse,
amor, a cor do pesadelo que por
aqui passou agora mesmo, um céu
e nada mais - que nada temos,
que não seja esta angústia de
mortais (e a maldição da rima,
já agora, a invadir poema em alto
risco), e a dança no trapézio
proibido, sem rede, deus, ou lei,
nem música de dança, nem sequer
inocência de criança, amor,
nem inocência. Um céu e nada mais.
Ana Luísa Amaral (Lisboa, 1956-)
in Às Vezes o Paraíso (Quetzal Editores, Lisboa, 1988)
Em jeito de Parabéns à nossa poetisa/ mentora deste blog, que festeja hoje o seu Aniversário, aqui fica mais um poema lindo de Ana Luísa Amaral. Aproveitem!
domingo, 5 de abril de 2009
Há princípio
Nunca se sabe se tudo é tudo
ou se algo escapa
o saber é fio de horizonte
de perto se faz longe redondo
é origem de Oceanos o sítio dos mares
o destino dos rios ázimos sem o sal
o plâncton numa pressa de margens
inclinadas.
O saber é nascente sem a queda do Sol
a nuvem dupla que recebe a luz
e destila águas puras contínuas
gotas de elevador a deslizar nas folhas
em sumiço plano nas cobertas do chão;
incompleto e intermédio
construído ou inconstruído
de pressupostos que o são
válidos inválidos ou não.
Há princípio no saber bordamos origens.
Subimos na miragem da princesa no castelo
quanto mais subimos mais alta se torna torre
cresce mais e mais uma escada de cabelo.
Sorrimos subimos sorri
sorrimos continuamos-
Há muitos muitos anos era uma vez
uma pedra no caminho
era uma vez o ìnicio do saber-
ou se algo escapa
o saber é fio de horizonte
de perto se faz longe redondo
é origem de Oceanos o sítio dos mares
o destino dos rios ázimos sem o sal
o plâncton numa pressa de margens
inclinadas.
O saber é nascente sem a queda do Sol
a nuvem dupla que recebe a luz
e destila águas puras contínuas
gotas de elevador a deslizar nas folhas
em sumiço plano nas cobertas do chão;
incompleto e intermédio
construído ou inconstruído
de pressupostos que o são
válidos inválidos ou não.
Há princípio no saber bordamos origens.
Subimos na miragem da princesa no castelo
quanto mais subimos mais alta se torna torre
cresce mais e mais uma escada de cabelo.
Sorrimos subimos sorri
sorrimos continuamos-
Há muitos muitos anos era uma vez
uma pedra no caminho
era uma vez o ìnicio do saber-
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