domingo, 10 de maio de 2009

Cinco gotas e um "lapsus"

Soltaram o calor
nos primeiros dias de Maio
coloquei as folhas e os livros
sobre a mesa de mar na esplanada.

Águas escorriam céleres
perto
soltando ruídos vagos
som submerso de algumas palavras.

Trouxe memórias de uma ilha
onde
os sumos frescos dos frutos
saciavam a sede diurna
rodeados de uma brisa amena
e a velatura
da imensa mancha azul
extensa e lisa.

Eram as noites mais quentes
de loucura
onde
intensas luzes dança
cobriam peles nuas
de brilhos raros
vestindo-se por vezes
de um sensual abandono
no intervalo
do malte dos whiskies
e o álcool das cevadas.

Escuto os ecos longínquos
enleado
nesse quadro repentino
que surge nítido
no espelho oceânico
como seta subtil
no duplicar de falas
que passa no copo nas palhas
ou que parte
escondido noutras salas.

E há o gesto distraído
a queda abrupta de um postigo:
cinco gotas caídas sem abrigo
(como se fossem sem cuidado
e não o "lapsus" de um preciso reflexo
o suster inclinado de um pouco de alma).

Soltaram o calor
nos primeiros dias de Maio
e na praia
há uma rocha
um rosto uma ilha
que larga
limos verdes
um ouriço roxo e alcalino
cabelos de alga
e por fim
devolve ao mar espuma
a imagem já difusa desse quadro
um Titanic de naufrágios
uma ânfora adormecida
nos corais de plâncton
no aquário dos abismos
de um profundo Oceano.