sábado, 19 de março de 2011

A minudência de um cisne




Meia-noite e a minudência de um cisne. Num determinado ângulo, a electrocussão de um cisne, apenas e apesar de tudo, visível pela vibração das ondas concêntricas, que se formam quando a pedra derruba a sanidade espontânea do charco e deixa-se ir, na validação consequente do gesto, na trepidação elegante e convulsiva, na direcção mais sinistra, até ao fim, até que o atrito a separe do movimento que ela, se pudesse, manteria para sempre impingido.
E como é maravilhoso ver uma pedra deixar-se impingir.
Aproximemos, por isso, a fé da objectiva, a ganância do credo, a prática do sistema mental que o branco do cisne produz no seu duvidoso equilíbrio, como se o cisne não passasse de uma representação fria de um ansiolítico tomado a desoras, perto da periferia do nada a sua total inadequação ao tumulto e não obstante as ondas, a frequência, o imprinting, pedra-água-meia-noite-e-a-minudência-de-um-cisne.
Sejamos leais com as evidências. Foquemos o momento em que a arte radicaliza o momento da meia-noite e da minudência de um cisne, o momento em que o cosmos abre totalmente o ângulo determinado onde só é possível a electrocussão de um cisne, apenas e apesar de tudo, a electrocussão de um cisne, e voltemos às 23 e 59 do cadáver do dia anterior, porque no dia seguinte é meia-noite ainda e a minudência de um cisne.