duas bicicletas e um chapéu vermelho
subiram lentamente o monte
perna a perna
rodando
em círculos, sem vértices, redondos
na amplitude das correntes –
verde, tão verde, de cada lado do silêncio
foi o caminho
enquanto os pulmões abriam e recebiam
a altitude do ar
a pressa do vento
a promessa de escutar o horizonte
atraídos pelo íman, de cima
no plano alto dos sentidos –
dentro de cada um morava um segredo
a alma dupla, a constelação gémea
como se antes de subir o monte
em cada um se abrisse o peito
como uma porta desconhecida
ao som de uma harpa, de um chamamento
preparando aquele único instante
irrepetível
como o nascimento:
dois que existem sobre o verde
dois unidos no pensamento
quatro símbolos em uníssono:
fogo, ar e terra, e um mar infinito
no espelho dos olhos, nas ondas do corpo
na dupla luz do brilho, no olhar líquido
e um reflexo:
um lago e um cisne–
josé ferreira 19 Agosto 2012