terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Os aromas discretos das flores de sal




Uma manhã moderna seguiu o mar
"foot by foot" na canção do metrónomo.
Passou o lago sem patos ao primeiro sinal
e de barro, pousados, na última passagem;
águas paradas, um vítreo plano de prata.


Uma manhã moderna os atletas
de gorros e luvas pretas
cumpriam uma corrida sem metas
atingiam clareiras de pássaros adormecidos
e o apito seria mais bonito se fosse corneta
o som possante, brilhante dos metais.

Uma manhã, manhã moderna
no intervalo de um cansaço, estava trémula
sentada na relva madura, a pele húmida.
longe estava o lago e era leve um sussurro
sem nexo, um sussurro de falésias
burilado no ruído de marés - estava perto.

Um manhã, manhã moderna
as nuvens caíram no mar
como flocos doces de um açúcar de feira;
as águas tornaram-se doces, calmas.
não era monótona a cor da areia: dois tons
de um lado mais branca e seca
do lado do mar o horizonte molhado, sem marcas
as marcas de um caminho de pés
que em segredo, nas costas, as mãos
as mãos brancas levavam aos barcos
longe, tão longe, sem remos, sem redes
porque sabia divertidos os peixes
sempre que as ondas descalças
cobriam as linhas, as gravadas plantas
e desnudavam aos poucos os vermelhos
os vernizes no rosto dos dedos.

Uma manhã, manhã moderna
a camisola longa, as calças azuis
as sapatilhas de corrida, sózinhas
e as meias, os desenhos das cerejas
- os brincos de princesa -
sorrisos de infância nos lábios
rubros, displicentes de sumo
ao afastar as águas.

Uma manhã, manhã moderna
sentia as ondas, os segredos do mar;
as nuvens doces e os aromas mais discretos
das flores de sal.