É curioso escrever o poema como quem sobe uma escada
até à cerimónia secreta de manto, vela e rosto tapado.
Estender em dois buracos o olhar imperfeito de retinas
na raiz de outras almas outras sinas.
Não será postulado único como origem.
Por vezes é um circo que se anima de um trapezista
no equilíbrio de uma vara, um anão que rebola na
impossível guilhotina de uma garra imemorial de um
tigre ou num balancé de uma tromba de elefante.
O poema como resultado expositor de palavra
Cabeça de guizos incomposta e exigente
na súbita invenção de margens, um rioimediato
que nasce de um sopro ou fumo vago.
Sonha-se a imagem no poema como gozo
uma garrafa de asa uma chávena de gargalo
e a mesa pendurada no belo tecto arabesco
da mesquita Halloween; grande abóbora.
E nada existe desta forma para além do cisco
que resiste junto ao canto, obriga a vista
à cuidadosa medida
que lança de novo a âncora
o bálsamo do benefício
o merecido alívio
nos risos improváveis de juízo:
o poeta é um pouco louco
uma nota descontínua.