quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O poeta é um pouco louco

É curioso escrever o poema como quem sobe uma escada
até à cerimónia secreta de manto, vela e rosto tapado.
Estender em dois buracos o olhar imperfeito de retinas
na raiz de outras almas outras sinas.

Não será postulado único como origem.

Por vezes é um circo que se anima de um trapezista
no equilíbrio de uma vara, um anão que rebola na
impossível guilhotina de uma garra imemorial de um
tigre ou num balancé de uma tromba de elefante.

O poema como resultado expositor de palavra

Cabeça de guizos incomposta e exigente
na súbita invenção de margens, um rioimediato
que nasce de um sopro ou fumo vago.

Sonha-se a imagem no poema como gozo
uma garrafa de asa uma chávena de gargalo
e a mesa pendurada no belo tecto arabesco
da mesquita Halloween; grande abóbora.

E nada existe desta forma para além do cisco
que resiste junto ao canto, obriga a vista
à cuidadosa medida
que lança de novo a âncora
o bálsamo do benefício
o merecido alívio
nos risos improváveis de juízo:

o poeta é um pouco louco
uma nota descontínua.

2 comentários:

M. disse...

José,

Gostei muito da insanidade poética. Que necessária ela é.
Destaco pela loucura divertida e eficaz os versos:

"E nada existe desta forma para além do cisco
que resiste junto ao canto, obriga a vista
à cuidadosa medida
que lança de novo a âncora
o bálsamo do benefício
o merecido alívio
nos risos improváveis de juízo"

Talvez apenas dispensasse a interrogação final "mas que dizer da vida?", apenas porque penso que vem atenuar um pouco esta loucura divertida e necessária com uma evidência muito sensata.

Parabéns e beijinhos

josé ferreira disse...

Marlene obrigado pela ajuda, acho que tens razão esse verso está a mais e tira força à mensagem deixando cair a loucura do poeta e colocando-o no mesmo patamar de "vida" como vulgar.Vou rever e republicar!

Bjo. e "please keep on writing!"