domingo, 7 de agosto de 2011
Vozes - um poema de Ana Luísa Amaral
Aguarela de António Cruz
Eterno é este instante, o dia claro,
as cores das casas desenhadas em aguada rasa,
castanhos e vermelhos quase em declive,
as janelas limpíssimas, de vidros muito honestos.
Este instante que foi e já não é, mal pousei a caneta
no papel: eterno
Sonhei contigo, acordei a pensar
que ainda eras, como é esta janela,
como o corpo obedece a este vento quente, e é ágil,
mas tudo: tão confuso como são os sonhos
Agora, neste instante, recordo a sensação
de estares, o toque.
Não distingo os contornos do meu sonho, não sei
se era uma casa, ou um pedaço de ar.
A memória limpíssima é de ti
e cobriu tudo, e trouxe azul e sol a esta praça
onde me sento, organizada a esquadro,
como as casas
E agora, o teu andar
acabou de passar mesmo ao meu lado, igual,
e agora multiplica-se nas mesas e cadeiras
que cobrem rua e praça,
e eu vejo-te no vidro à minha frente,
mais real que este instante, e se Bruegel te visse,
pintava-te, exactíssima e aqui.
E serias: mais perto de um eterno
(Eu, que nada mais sei, só o fulgor do breve,
eu dava-te palavras –)
Ana Luísa Amaral
Vários poemas de Ana Luísa Amaral foram também publicados numa revista no Brasil
consultar o link http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-57/poesia/vozes
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