Não serão os mesmos seixos que a água deixa ver, nem os mesmos fentos que amparam a água a correr devagar, como toda a que passou antes sob a ponte.
    Mas
 ainda são as mesmas pedras, talhadas e carregadas para se sobrepor à 
armação de madeira que as sustentam. As pedras, elas no esqueleto de 
madeira que fez o avô carpinteiro do meu avô que foi lavrador, também 
não serão eternas.
    O Meu avô compunha também as rodas dos carros de bois, menos vezes 
quando fui para a primária da aldeia, mas já muito antes de eu ir
 para a escola. Também vendia gado de puxar carros de bois na feira. O 
caminho era curto, meia hora a pé com companhia. Ele nunca vendeu os 
bois pelo preço justo, coisas... hoje vejo bem melhor isso.
    Por
 vezes falam-me da ingenuidade do campo, falam-me as pessoas da cidade. 
Ou como agora se perdeu... E eu, eu acho graça, e imagino como a feira 
deveria ser um jogo estranho para o Fanfa, o meu avô. Era apenas um 
homem, um homem que não jogava.
    Diz-se ainda hoje que sob a ponte muita água há-de passar. Esta, neste preciso momento, está a passar. 
    Já agradeci a quem me ouviu. E se o meu avô estivesse vivo, teria também dito, deve ser proibido desrespeitar.
    Na aldeia, à noite gosto de ouvir o som da água, e é perfeito quando o 
céu está limpo, e deixa ver o estrelar, como a água que de dia deixa ver 
os seixos. E a ponte, não se deixa ouvir, nem ver, é silêncio. De todos 
os silêncios, o silêncio perfeito
 
