Crueldades, prisões, perseguições, injustiças,
como sereis cruéis, como sereis injustas? Quem torturais, quem perseguis, quem esmagais vilmente em ferros que inventais, apenas sendo vosso gemeria as dores que ansiosamente ao vosso medo lembram e ao vosso coração cardíaco constrangem. Quem de vós morre, quem de por vós a vida lhe vai sendo sugada a cada canto dos gestos e palavras, nas esquinas das ruas e dos montes e dos mares da terra que marcais, matriculais, comprais, vendeis, hipotecais, regais a sangue, esses e os outros, que, de olhar à escuta e de sorriso amargurado à beira de saber-vos, vos contemplam como coisas óbvias, fatais a vós que não a quem matais, esses e os outros todos... - como sereis cruéis, como sereis injustas, como sereis tão falsas? Ferocidade, falsidade, injúria são tudo quanto tendes, porque ainda é nosso o coração que apavorado em vós soluça a raiva ansiosa de esmagar as pedras dessa encosta abrupta que desceis. Ao fundo, a vida vos espera. Descereis ao fundo. Hoje, amanhã, há séculos, daqui a séculos? Descereis, descereis sempre, descereis. Jorge de Sena, in 'Pedra Filosofal' |
terça-feira, 27 de novembro de 2012
Ode à Mentira
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