quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

RIO EM DESESPERO


Corre rio corre,
corre desenfreado,
a brutal enxurrada descaracterizou-te,
e embruteceu-te.
Levas vidas que afogas diabolicamente,
porque tudo inundas
além do teu leito que te não basta;
fustígas-nos a alma
submissa e impotente
enquanto olhamos a TV
visualizando dramáticos confrontos
entre a morte e a vida
de seres vivos despojados,
t ã o t r u c i d a d o s,
mas sobretuto inocentes...
....................
Dás crédito à revolta da natureza,
à força incomensurável
dum Planeta bom
que nos acolheu,
mas hoje tristemente abandonado à sua sorte,
por culpa de humanos indígnos,
t ã o t r e s l o u c a d o s ,
não merecedores da cohabitação!

Corre, rio corre,
corre desesperado
porque em teu feroz seio
também levas os gritos e lágrimas
dum Planeta que chora
inexoravelmente a sua desdita!

( António Luíz, 20-01-2011; incluído no livro:
"Poesia pragmática: Poemas de Vidas" - 2010/11)

Perguntas


Vincent Van Gogh

(Mais um concorrente ao prémio Correntes d'Escrita)

Tenho sempre, na algibeira da noite,
algumas vigorosas perguntas de reserva,
prontas a disparar em legítima defesa
contra o negrume.

Algumas são pequeninas, vulgares
aspectos de pormenor.
Outras, pelo contrário, são enormes,as
desabridas como a boca dum forno –
do género porque é que deste quatro,
e não seis, ou oito, pernas à rã.

Hoje ocorre-me fazer a menor de todas:
se foste tu que fabricaste o tempo
e a ele nos acorrentaste?
e com que barro? e com que raio
de segunda intenção?

Se é que não foi apenas por descuido.
Ou até casualmente, como acontece às vezes
ao cientista que faz experiências
e acaba por descobrir seja o que for.

A.M.Pires Cabral "Arado" Ed. Cotovia

entre-actos


Saul Leiter

conhecia muitos lugares do mundo……………….
.......……………………………………sem nunca estar
o mundo pode ser espectacular………………………………
...………………………………diziam em todos esses lugares
e todos falavam em partir………………………..........
...………………………….diziam que o mundo lá fora
era a porta entreaberta………………………………....
...……………………......um entre-acto de um teatro
a face por desvendar…………………………….....
...…………………….....um pólen possível a polinizar
lá fora nesses lugares…….................
......……………………..sem nunca estar.

e os dias rodavam imperativos………………………………......
.........………………………………e as estações rodavam cíclicas
específicas, originais em todos esses lugares………………..

e a porta entreaberta abre, abre…….........
................……………………………….devagar.
neste, naquele, em cada pé que se estende………………………………
…………………………………………..de frente e na frente ao caminhar
quando -


José Ferreira 9Fev2011