segunda-feira, 28 de maio de 2012

O Teu Amor



Amor escrito a densidade
Ziguezague em pura luz
Envolve de ouro a saudade
Impregna de estrelas a pele
Transformando em liberdade
Etéreos sonhos de papel.

Amor corpo inteiro em céu
Zela a noite em nu abraço
Espaço de poente a par
Ilumina gigante a fantasia
Teu amor é terra e laço
Escreve em meu colo poesia.

A história de como o Azeite

.

..
Dom Azeite Azeitoninho de Monte-Plano Lampante
          [ Reguengos de Oliveira Carocilho e Alarcão
Era um senhor rubicundo
e profundamente careca
que vivia numa ramada seca
em Azeitão.
.
Falava imenso,
sempre muito alto –
com a sua cara de pele lustrosa
virada para cima a brilhar –
na toada discursiva
de quem sabe tudo,
peito inchado,
sobrolho franzido e
braços a gesticular.
.
Gabava-se de ser Rei
das Hortas, das Oliveiras e da Criação,
Senhor dos Lagares do Azeite,
rico que nem sabia quanto!
Navegador d’ aquém e d’ além
do Regato Pingado da Rega
Imperador das varetas,
e isto e aquilo e mais que Santo.

Tinha só uma folha pelada
que chamasse sua,
o resto era basófia e
refinadíssimas balelas,
está mesmo bom de ver!
Por dentro
tinha um caroço
preto e duro como os outros,
e sangrava a mesma matéria,
densa e viscosa ao arrefecer.
.
E lá andava muito empinado,
a rebolar por todo o lado,
a arengar à esquerda e à direita
com voz cava de cavalheiro.
Mas houve um dia
em que perdeu a compostura,
estalou-se-lhe o verniz da casca
e mostrou a polpa de arruaceiro:
.
Alguém o chamou
sem as untuosidades de que ele gostava:
- Anda cá, ó Azeitona!
E ele parou de repente
engasgou-se-lhe o caroço,
passou-lhe uma coisa pela vista,
foi direito ao outro e zás!
Acertou-lhe uma tapona.
.
E estavam todos tão cansados
das retóricas e tiques de
Dom Azeite Azeitoninho de Monte-Plano Lampante
          [ Reguengos de Oliveira Carocilho e Alarcão
que foi um deleite:
É que o outro
era maior e não se ficou,
apanhou-o pela largueza da baga,
e apertou
e triturou
e torceu
e espremeu
e sacudiu
até que nada sobrou,
senão uma pocinha de azeite.
.
raquel patriarca | vinteecinco.maio.doismiledoze