sexta-feira, 22 de maio de 2009

A Árvore

Vivo

Está vivo e dele se espera algo mais
ímpar sem alinhos de prumo
ímpeto de touro embravecido
nas escritas fortes em caligrafia
caudalosa de gritos e arrepios

vivo até ao último dia
sem medo da cicatriz diagonal
do esquerdo lugar da frente
ao sinal mais longo na virilha

vivo e absoluto em qualquer cruz
como o surdo que compunha sinfonias
como um cego entre as bombas de Hiroshima
como os cascos do cavalo nos infernos de Guernica

vivo e sanguíneo
rasgando o ventre dos bosques
as raízes invasivas de rotinas

vivo e resistente
nas tempestades brutas
nas marés vivas das razias

vivo e revolto
como a raiva das águas
que destrói as rochas teimosas
altivas duras
na força de espumas brancas
às ínfimas partículas
areias miméticas de vazios

vivo e dele se espera algo mais
os espirros a gripe
o catarro
a doença benigna
a pandemia das ideias
nos mastros contemplativos.