segunda-feira, 8 de junho de 2009
Pedro de Santarém
rapariga
primitiva
que eu sou
fui
e hei-de ser
Minha
querida
rapariga
para ti
os girassóis
são giros
e giram
e é o amor
que move
o Sol
que move
o girassol
E
é o girassol
que move
o Sol
Querida
rapariga
imperativa:
gira, Sol
gira, girassol
E
Deus
é
o girassol"
Retrato de uma cena alguns anos atrás
frases de encanto
inverdades de efeito letal.
Porque vejo lianas
piruetas de troncos
gritos surdos de Jane?
Porque só eu ouço
de rosto fixo e alma traçada?
Porquê o ridículo gesto do chapéu
esgar cínico olhar de Bogart?
Saímos juntos na noite fria
ainda de mão dada
estranha liberdade.
Comentários banais
circunstância esquecida
invenção de véspera
contagem final
do dia que termina.
para quê enviar-te uma carta
Para quê enviar-te uma carta se estás aqui ao meu lado, para quê.
Porque não me quero ouvir declamar as falas de um discurso
decorado em antemão, decorado, que já não sinto
sequer, mas tenho que to ler em sílabas completas
sem o choro dos passados partilhados.
E naqueles tons eu vou deixar-me aceso em lenta vida,
em lenta vida naqueles tons monocórdicos aos quais me rendi
sem a tua presença radiante. Para quê enviar-te uma carta.
Talvez me sinta mais homem. Talvez. Aquelas palavras brutas
e animalescas que te chamo nas ideias estão lá, aquelas palavras
únicas que eu não digo porque te ferem, frágil que és, te ferem
até à medula do teu ego. Sentir-me-ia mais homem porque
não te teria de olhar nos olhos. E olhar-te dói.
Dói-me ao respirar-te, ao ouvir-te falar, ao chegar-me a ti
e saber que não te posso encharcar de amor, dói.
David Campos Correia
O jardim das cores
o azul e o laranja,
o amarelo, o violeta,
o lilás e o carmim...
saltam das flores
à paleta do poeta
nas asas do perfume
a pétalas de rosa,
a jasmim!