Para quê enviar-te uma carta se estás aqui ao meu lado, para quê.
Porque não me quero ouvir declamar as falas de um discurso
decorado em antemão, decorado, que já não sinto
sequer, mas tenho que to ler em sílabas completas
sem o choro dos passados partilhados.
E naqueles tons eu vou deixar-me aceso em lenta vida,
em lenta vida naqueles tons monocórdicos aos quais me rendi
sem a tua presença radiante. Para quê enviar-te uma carta.
Talvez me sinta mais homem. Talvez. Aquelas palavras brutas
e animalescas que te chamo nas ideias estão lá, aquelas palavras
únicas que eu não digo porque te ferem, frágil que és, te ferem
até à medula do teu ego. Sentir-me-ia mais homem porque
não te teria de olhar nos olhos. E olhar-te dói.
Dói-me ao respirar-te, ao ouvir-te falar, ao chegar-me a ti
e saber que não te posso encharcar de amor, dói.
David Campos Correia
1 comentário:
David é um poema que respira de forma fluída. Gostei muito. Parabéns pelo poema e pelo livro.
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