sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
a génese, a água e a luz
Giovani Bellini 1505-1510
o verso de que partimos começa em luz.
é errado pensar que só da água a génese
só da água a forma inicial da vida complexa.
a luz na condição humana navega por vezes na suposta leveza
de um mar que se preenche sem surpresas
uma mansidão de azeite ou de mel na vastidão plana do horizonte
mas em grande movimento, desapercebido pela superfície dos ponteiros
embora como o plâncton pela boca aberta dos peixes
bem seguro pelo filtro das guelras –
mas vou ser breve.
não pretendo estender as palavras como bosque sempre ou seara extensa
embora de um lado se ondeie o brilho dos cabelos, um espelho
e de um outro o mistério, o segredo e as sombras, as sombras
e a vida, sim, a vida complexa das células, as mais destemidas –
prometi que não te cansava os olhos
e termino junto às portas da distância
enquanto as mãos se encontram perdidas, e sensíveis, sim
mas perdidas, pousadas sobre a razão como num rugoso muro
um muro que divide –
o verso de que partimos começa em luz
uma luz singular e imbatível, e tantos anos
e tantos anos –
neste mar de chão em que pousamos
como na divisibilidade de água e plâncton
nem tudo passou nem tudo foi filtrado –
permanece o verso de que partimos
a luz
a luz, sim, a luz, e este pó nos lábios –
josé ferreira 2 fevereiro 2012
Subscrever:
Mensagens (Atom)