Dá láudano à dor
E alivia com torpor
O que te arde
Sem calor
Que é só frio
O frio
Que te invade
E é sem freio
E feio de se ver
Este rumo com que a dor
Faz em fumo a vontade
Sem pudor
A Dor trás a dor
A dor atrás da Dor
Dá láudano à dor
Adormece no segredo
De engolir
A medo
Esse medo
De sentir
Mais dor ainda
Que essa dor
Temor
De dor não é bem-vinda
E queres calar
A voz
Da dor
Que vai ainda
Insistir
Em te embalar
E nesse sono
À dor seguro
A dor dá colo
No quarto escuro
Adora a tua dor
A dor, a tua dor
Dá láudano à dor
Retalha o sofrimento
Dessa dor
Em movimento
Amputada
Ali é manca
Ali é branca
Ali é nada
Sem cor
A dor
A dor que sei
De cor
Ali sentada
A dor
A dor ali esquecida
Por um momento
A(dor)mecida
A cor da tua dor
Acorda a tua dor
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
Poesia contemporânea
Resolvi publicar este poema do Nuno Júdice recordando a noite de lançamento do disco maravilhoso da Clara Ghimel "Entre Mares", totalmente dedicado à poesia portuguesa musicada num embalo Bossa Nova que a todos recomendo.
Espero que gostem!
Natureza Morta sem Paradoxo
Se tivesse um copo para encher,
dá-lo-ia ao verso que se estende pela sede de o beber.
Se tivesse uma faca para abrir a romã,
trocá-la-ia pela serpente que preferiu a maçã.
Se tivesse um vaso oonde plantar flores,
enchê-lo-ia com a terra que o céu vestiu com as suas cores.
Assim, poderia beber-se o poema
pelo copo do verso,
cortar a fruta
com a lâmina da serpente
e pisar o céu
à luz da terra.
Nuno Júdice 2008
Espero que gostem!
Natureza Morta sem Paradoxo
Se tivesse um copo para encher,
dá-lo-ia ao verso que se estende pela sede de o beber.
Se tivesse uma faca para abrir a romã,
trocá-la-ia pela serpente que preferiu a maçã.
Se tivesse um vaso oonde plantar flores,
enchê-lo-ia com a terra que o céu vestiu com as suas cores.
Assim, poderia beber-se o poema
pelo copo do verso,
cortar a fruta
com a lâmina da serpente
e pisar o céu
à luz da terra.
Nuno Júdice 2008
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