segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
O Mar parece Azeite (poema de Sylvia Beirute)
O MAR PARECE AZEITE
trago sinceridade no gozo e nas cenas definidas,
vivo no risco dos outros,
e por isso não sou feliz.
nada escondo nos poros das respostas.
nada me alcança do outro lado,
nada me sonha porque uma segunda adolescência
me não vaga uma angústia.
tudo sonho com psicologia quantitativa,
com o extravio propositado
de um silêncio que devora outro silêncio,
com o cultivo da nitidez
sobre a dogmática difusa de uma consciência
que gira sobre o seu eixo.
quero tirar-te todos os silêncios, meu auto-intruso
e caçador involuntário,
para entender a espessura deste acidente externo
de palavras
e ser transeunte no limite transfeito,
nas auto-promessas, tão frias de sentir e esquecer,
sem-tir e esque-cer, sentir-esquecer,
no meu infinito sustenido e directamente alheio.
hoje, às oito e quarenta, horário nobre, o mar
parece azeite,
transmudo o riso contabilístico e áspero, e
sou um miolo de frase feliz
na longinquidade que um estranho me reservaria.
Sylvia Beirute
inédito
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