Salvador Dali
quando o nascer do dia proíbe o belo, procuro a molécula invisível
e habito junto do sonho, no aroma das rosas, no travo da hortelã
na cor redonda dos mirtilos –
sinto nas pestanas o vento, a sua volatilidade de mãos perfeitas
e sopro versos em ondas etéreas
para que viagem distâncias
para que se tornem poemas
para que ganhem olhos, asas e lábios
e falem sem cessar, como um papagaio das arábias
junto da curvatura da face, das rosáceas do rosto –
e embora acordado na buzina da cidade, sou imune
podem atravessar-me obuses e o cabelo é leve
leve como a mais leve das plumas -
e sei que é Setembro, o mês das vindimas
o mês de bagos doces no brilho solar das encostas -
e sei que é Setembro, e conto-te da importância das rosas
das brancas e de todas as cores, que não são cinzentas
e são aromas, de abelhas e borboletas –
e sei que é Setembro, o mês dos poetas
e falo sem cessar do belo das corolas, do seu ardor vermelho
da sua possibilidade e do seu espelho –
josé ferreira 5 Setembro 2012